3.160 AMICOR (26)
#Com Dra. Valderês A. Robinson Achutti (*13/06/1931+15/06/2021)
Passeando no Yang Tse em Shangai, em 2001.#Re-Publicando artigos antigos meus.
Escrito em 1998, no Centenário de nascimento de nosso pai -
Publicado, na época, em A Razão, SM.
Encontrei também outro texto lido na celebração dos cem anos de Papai, na Igreja Maronita Nossa Senhora do Líbano, em missa oficiada pelo Mons. Urbano Zilles.
Publicado, na época, em A Razão, SM.
Celebração da Vida Aloyzio Achutti A herança genética que recebemos de nossos pais através do "testamento" transcrito em linguagem DNA é nos incontestavelmente importante e determina com força muito do que todos nós somos ou poderemos ser pelo resto da vida. Deste patrimônio, parte é copiado para compor a herança da próxima geração. E, assim por diante, quase sem perdas, num criativo moto contínuo, vai se desenvolvendo a biodiversidade. Já está bem definido também o papel da mãe, no caminho que vai de seu ventre até o colo, na abertura ou não de capítulos do "testamento". Fica, por assim dizer, para sua discriminação, selecionar, incrementar ou deserdar partes de uma herança que é muito maior do que um indivíduo precisa dentro das dimensões de sua existência. Não se pode esquecer que a herança não se destina a ser gasta numa única vida, mas também contém as mensagens de interesse da espécie que devem ser transferidas de geração em geração. Assim é que hoje se demonstra serem determinantes, para a vida do neto, as condições de gestação de sua avó materna!... E o pai, a quantas fica em todas essas? Só entra com palpites na redação original do "testamento"? Seria muito luxo e desperdício da natureza sustentar um macho para tão pouco... Dentro de nossa espécie e de nossa cultura, sabe-se que existe outra importante linha genealógica, a da inserção na estrutura social, expressa pelo costume de passar por via masculina o nome de família. Embora os papéis biológico e cultural tenham preponderância na mãe, é como se ela devesse estar resguardada, dedicando-se escondida à sua tarefa vital, enquanto a luta pelo espaço e pelo domínio do território ficariam como atribuição mais masculina na competição social. Assim mesmo, estas elucubrações me parecem insuficientes ao olhar o mundo quando meu pai estaria completando seu centenário de nascimento, se vivo ainda estivesse. Parece haver legados culturais, afetivos e de comportamento, transcritos através de gerações, muito mais complexos e frágeis, que dificilmente estariam embebidos nos cromossomas, ou na heráldica familiar. Aliás, deve ser esta uma das características aparentemente contraditórias da natureza e da vida: quanto mais valiosa e complexa a carga a ser transportada, tanto mais frágil e vulnerável seu veículo, aparentemente, para dar todas as chances ao exercício da adaptação e da seleção naturais... A própria vida em sua poderosíssima-complexa-fragilidade é disso o melhor exemplo. Ao celebrar a vida e seus segredos, me vêm à memória três traços marcantes de meu pai. Primeiro, sua paixão pelas conquistas da ciência e da tecnologia, em biologia, farmácia, medicina, eletrônica e fotografia. Segundo, seu enorme respeito pela utilização do poder conquistado: embora tivesse sido campeão brasileiro de tiro ao alvo em 1922, no Rio de Janeiro, no centenário da independência, nunca o vi sequer matar um passarinho até seus 80 anos. E por último, suas inseparáveis máquinas fotográficas que, não sei como, passaram para meu filho, hoje em Paris, completando seu doutorado em Antropologia Visual. Muito rara foi a convivência com o avô, mas ele termina a introdução de sua tese dizendo: "Meu avô fotógrafo, Bortolo Achutti, da janela do sótão, com seu telescópio, invadimos a intimidade da lua. Do seu laboratório no fundo de casa, vi como se podia aprisionar a luz na forma da própria lua." Hoje, 30 de julho de 2013, tive o prazer de visitar a irmã de um amigo e colega de meu pai (Da. Odette Fernandes Martins Gonçalves, irmã do falecido Aniro Fernandes). (Infelizmente no dia 06 último recebi telefonema do filho, José Eduardo, dando a triste notícia que Da. Odette havia falecido durante atendimento de urgência em sua casa) Conversando com minha irmã Maria Helena Cechella Achutti, também Farmacêutica, ela lembrou do texto acima escrito há quinze anos, e a propósito do qual, na época, o Sr. Aniro teria cumprimentado minhas irmãs, dizendo o que segue: Depoimento, ao telefone do Sr. Aniro Fernandes e esposa, companheiros do papai na Farmácia do Povo. Ficaram muito felizes com a mensagem "Celebração da Vida" pelos 100 anos do papai-Bortolo, 1998. " O Bortolo era um homem de fé, durante tantos anos que trabalhei com ele, nunca ouvi palavra que não fosse de fé e esperança. Um grande amigo que jamais esquecerei! Não esqueço de uma vez que falava ao telefone com a filha, chamava-a de Lelena, um termo tão carinhoso de pai! " "Ficamos muito agradecidos pela família ter nos incluído nessa celebação, tão justa para o amigo Bortolo Um abraço para o Aloyzio pela feliz lembrança. Lembro-me dele, um rapazinho magro, estudioso e muito inteligente!" | 1924 1938 1976 |
Missa Comemorativa do Centenário de Nascimento de Bortolo Achutti Igreja de Nossa Senhora do Líbano. Porto Alegre, 28 de outubro de 1998. A celebração do centenário de nascimento de meu pai, Bortolo Achutti, nos convida a celebrar a vida, seus quase oitenta anos bem vividos, as vidas que o trouxeram, e as vidas que nos deixou. Vidas biológica, social, cultural e de religião. Seus pais vieram de longe, do Líbano e da Itália. Quatro irmãos de um lado e dois de outro, chegados no último quartel do século passado . Hoje somos mais de dois mil e seiscentos componentes das famílias Achutti e Borin. Quem conheceu papai tem dele a memória de um justo. Foi um homem entusiasmado pela vida, entusiasmado com as conquistas científicas e tecnológicas, religioso, sempre presente a todos os eventos sociais, procurando registrar suas imagens, era - pode-se dizer - um homem discreto, tinha muitos amigos (não me recordo de nenhum inimigo), não fez fortuna, mas nos deixou um tesouro de inestimável valor através da educação, de seu exemplo pessoal, e do conceito social que granjeou. Meu avô Antônio, conheci-o através de meu pai, pois morreu quando eu era ainda muito pequeno, mas o que me passou deixa-me com a sensação de ter com ele convivido. Minha avó Magdalena sim, convivemos até poder apresentar para ela minha noiva. Foi aluno dos Maristas, bem no início da chegada deles, no Colégio São Luiz, mas terminou seus estudos no Gymnasio Santa Maria, do qual chegou a ser comandante do Batalhão (colegial) Flores da Cunha. Foi desenhista da Viação Férrea e sempre um entusiasta de seu desenvolvimento. Treinou-se como prático laboratorista em farmácia. Foi campeão nacional de tiro ao alvo no Rio de Janeiro, por ocasião do Centenário da Independência em 1922. Esta última memória me fez pensar numa das características da personalidade de meu pai. Eu não existia quando ganhou o título que lhe valeu um revolver 38 cano longo, com uma inscrição comemorativa no cabo, e que eu guardo com carinho. Tive oportunidade de vê-lo praticar o tiro ao alvo muitas vezes em minha infância, mas nunca me lembro de tê-lo visto atirar contra um alvo com vida. A partir daí descobri nele o exemplo de um profundo respeito pelo poder conquistado, ou ao fazer uso de recursos extraordinários. Esta faceta de sua personalidade, simbolizada no uso de uma arma - que o sabia fazer com perícia invulgar - aplica-se a muitas outras situações em sua vida, nas quais não se prevaleceu, ou tirou proveito de vantagens pessoais. Foi mobilizado para a Revolução de 30, mas não chegou a sair do Estado. Nos levou para uma vila do interior (Agudo), onde adquiriu uma farmácia. Onde um tio médico - irmão de minha mãe - clinicava. Lá, e depois, no retorno a Santa Maria, na Farmácia da Faculdade, me criei atrás do balcão e no laboratório, vendo-o na sua prática quotidiana, particularmente no contato com a freguesia, que, como se sabe de um bom farmacêutico, termina se tornando quase uma clientela... Imagino que ele teria sido um excelente médico, se tivesse vindo a Porto Alegre estudar Medicina, na Faculdade que foi fundada no mesmo ano em que nascera, e na qual meu deu a oportunidade de estudar. Quando me formei, a Faculdade de Medicina, e meu pai, completavam sessenta anos. Hoje, quarenta anos passados, celebro o centenário de ambos. Quando vim para Porto Alegre, recém se iniciava o movimento para a criação da Faculdade de Medicina de lá (SM), também a partir da Faculdade de Farmácia, como o foi aqui pouco mais de cincoenta anos antes. Mesmo a distância, acompanhei seu entusiasmo no desenvolvimento daquela faculdade, que depois se estendeu para a primeira universidade do interior do Brasil. Ele tinha cargo de laboratorista e fotógrafo na recém criada escola, mas fazia de tudo que estava a seu alcance. |
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