Saturday, December 13, 2008

Associação dos Antigos Alunos da UFRGS: Jubileu de Ouro

Ontem comemoramos os 50 anos de formados pela UFRGS, juntamente com os que completavam 60 e 25 anos.

Convidaram-me para falar em nome dos de 1958 e abaixo segue a minha mensagem:

MEIO SÉCULO DE PROFISSÃO (1958-2008)

 50 anos se passaram de nossas formaturas...

Motivo para celebração, para agradecimentos, para retrospecto, e para reflexão.

Sinto-me honrado falando também em nome de colegas de outras profissões, tentando não me restringir à medicina, mas buscando a perspectiva que deveria estar nos fundamentos de nossa universidade.

Cada um de nos terá histórias e experiências que não cabem no exíguo tempo deste encontro. Atuamos no mesmo palco, com papéis específicos, mas com um roteiro comum. Alimentamos sonhos, paixões, fantasias, ilusões. Tivemos frustrações e muitas realizações.

A universidade nos ajudou a caminhar pelo reino da ciência, da tecnologia e das artes. Incentivou-nos a perseguir o belo e a verdade, e a questionar as certezas de hoje e os projetos de amanhã. Equipados com o que recebemos há mais de meio século, aprendemos, ensinamos, pesquisamos, descobrimos, criamos, construímos, desenvolvemos.

Nesse tempo muita coisa mudou, tinha de mudar, nós mudamos. Ficamos 50 anos mais velhos? Ou foi o mundo que ficou mais novo?!...

Alguns de nossos colegas ficaram pelo caminho. Quase todos os professores já se foram, e muitos dos familiares presentes em 1958 não estão mais aqui.

A população mais do que dobrou, a terra esquentou, regimes e governos mudaram, o mundo enriqueceu, as diferenças sociais aumentaram, a expectativa de vida espichou, a mortalidade infantil caiu, as cidades incharam para os lados e para cima, o campo encolheu. A comunicação explodiu, fomos parar na lua e continuamos viajando para mais longe, olhando para mais além, e enxergando para trás, vendo fenômenos que aconteceram até antes de haver vida nesta terra. As drogas se disseminaram, o cigarro foi proibido, ficamos mais gordos, sedentários, mais nervosos e deprimidos. A família se sacudiu, as torres caíram, a cortina de ferro enferrujou, acordaram-se os tigres asiáticos, descobrimos que o comunismo nunca existiu, e o capitalismo está em perigo. Órgãos são transplantados e a clonagem recria a vida, células tronco, as doenças infecciosas caíram de moda e voltaram junto com as crônicas. Ficamos campeões de futebol, dos maiores exportadores de grãos e de carne, industrializados e auto-suficientes em petróleo. A Bossa Nova, Os Beatles, as bandas de Rock, os sambódromos, os grandes festivais de rock, os “Shopping Centers”, as casas de cultura, as feiras do livro, a Internet, Google, Wikipédia, “top-models”, industrialização.

Recém havíamos presenciado duas grandes guerras - como todas – absurdas. Consolidava-se a revolução Cubana, sucederam-se genocídios, pretextos para violência, para o desenvolvimento do mercado de armas e para a dominação pela força bruta e econômica.

Com toda nossa cultura e poder, não conseguimos dominar a violência nem a corrupção, nem controlar a poluição e a destruição progressiva de nossa própria casa.

Nessa corrida de revezamento cumprimos já com a maior parte de nossa etapa, e vai chegando a hora de passar adiante o bastão, mesmo sem compreender o sentido profundo de nossa missão.

Cada vez fica mais difícil saber quantos de nos poderemos participar da comemoração dos sessenta anos, mas aí estão os formados de 1983e os recém egressos, ainda com bastante tempo para conquistar e assumir posições, para que ao chegar sua vez, possam celebrar suas realizações e festejar um mundo melhor, em paz, mais saudável, mais estável, menos desigual, mais justo e mais feliz.

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