Wednesday, March 11, 2009

Certeza, probabilidade, confiança e ilusão

11 de março de 2009 | N° 15904

ARTIGOS

Certeza, probabilidade, confiança e ilusão, por Aloyzio Achutti*

Na busca incessante por uma verdade absoluta, só resta a certeza de que tudo é relativo e que todo ser vivo embora possa transmitir a vida termina se acabando. Na angústia da incerteza termina-se por adotar ilusões e fantasias para compensar e preencher o vazio.

A ciência busca o mesmo por métodos mais racionais e utiliza a arte da probabilidade como subterfúgio para restituir a confiabilidade nas escolhas e tomadas de decisão.

Mesmo no império da dúvida, é possível construir uma sociedade de confiança através de um pacto social, pelo qual seja possível viver e se desenvolver com relativa tranquilidade, efetuando trocas, sem ficar constantemente em guarda, desconfiando de tudo e de todos.

Tudo depende da confiabilidade dos parceiros e das boas experiências e frustrações em relacionamentos anteriores.

As notícias circulantes, entretanto, não são muito animadoras: a farda, o avental branco, a toga e a batina não dão mais a segurança desejada. O assaltante e o bandido não vêm mais maltrapilhos e de pés descalços. Os anúncios, os rótulos, a propaganda, os discursos, os resultados de pesquisas, as aulas e os sermões, com muita frequência, trazem desilusões, comprometendo a margem de confiança.

Por outro lado, parece que desde muito cedo todo mundo está exposto a um treinamento para viver de ilusões, com menos questionamento e contestação. As histórias da carochinha, o cinema, as novelas, reality shows (que nada têm de realidade), plataformas políticas, as promessas de cura, a maquilagem individual e social, o poder da mídia, até a educação focada na teoria e na idealização, escamoteiam a realidade.

A imaginação – que no dizer de Einstein é mais importante do que o conhecimento – permite o distanciamento do mundo real enquanto se reconstrói no virtual qualquer coisa livre de imperfeições, sem incertezas e mais de acordo com as expectativas de cada um.

Às dúvidas naturais somam-se a mentira, os falsos testemunhos, as omissões, os conflitos de interesses e o corporativismo, que aliados à curta duração da memória servem para deixar tudo como está, misturado na avalanche do constante renovar das informações, sem preocupação com o epílogo (ainda mais quando tudo termina em “pizza”). É mais fácil deixar-se viver sem tomar decisões, sem pretensões de interferir na história, sem contestar, assistindo passivamente ao cortejo passar.

A atual crise mundial é uma boa demonstração prática da frase de Abraham Lincoln: “Você pode enganar pessoas todo o tempo. Você pode também enganar todas as pessoas algum tempo. Mas você não pode enganar todas as pessoas o tempo todo”. Apesar de toda a aparência de poder, a queda do castelo de cartas viciadas do sistema financeiro internacional deveria servir como um alerta para não se continuar sonhando e pensar que tudo não passa de um pesadelo. Somente com restauração da confiabilidade e da parceria, será possível deter a deterioração progressiva das instituições, do tecido social e do meio ambiente, essenciais para se continuar vivo e transmitir a vida.

*MÉDICO

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