Friday, September 10, 2010

O futuro das drogas

Mídia do Dia: 03/09/2010
Data de Veiculação: 02/09/2010 


O futuro das drogas por Carlos Salgado, psiquiatra, presidente da ABEAD

Olhar para o futuro com o foco nas drogas de abuso é, há um, tempo assustador e instigante.

Emergem algumas possibilidades: disponibilidade de mais drogas, tragédias na forma de epidemias de uso de drogas desorganizadoras, fracasso da repressão, ocupação de espaços de poder por parte dos negociantes de drogas, legitimação ampla e irrestrita da produção e consumo, seleção natural dos mais hábeis diante da grande disponibilidade e uso massivo, mudanças conceituais sociais com ritualização do uso, avanços médicos e biológicos no controle do abuso (genética, imunologia e farmacologia).

O horizonte imaginário é amplo. Nos tempos correntes, mais e mais substâncias vão ficando disponíveis, ampliando o repertório dos usuários. Relatórios internacionais de agências observadoras do fenômeno da drogas, como o UNODC, mostram uma tendência geral de restrição do uso de substâncias mais naturais e ampliação da produção e uso de substâncias, digamos, laboratoriais. Elas têm se mostrado atraentes e trazem certo charme de benignidade e confiabilidade. Lobos em peles de cordeiros rapidamente mostram sua face cruel e desorganizadora, mesmo em uso recreacional.

Mas, seguindo com os olhos no futuro, parece fazer sentido acreditar numa certa industrialização franca das drogas de abuso. Assim como ocorre na indústria farmacêutica, a produção de drogas vai introduzindo opções em número sempre crescente. A busca por drogas de uso recreacional seguro seguirá em pauta. Preservar o usuário e ao mesmo tempo mantê-lo fiel é um dos desafios objeto de ficção, como mostrado no livro O Admirável Mundo Novo, escrito por Aldous Huxley em 1931, onde o Soma trazia recreação segura para qualquer usuário.

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