Saturday, March 05, 2011

Moacyr Scliar: relembrando

Relembrando Moacyr Scliar

O cardiologista Aloyzio Achutti, seu amigo e ex-colega, escreve sobre o legado do grande escritor gaúcho na área médica.
Aloyzio Achutti*
Tive o privilégio de trabalhar com Moacyr Scliar, e, sob sua chefia, nas décadas de 70 e80, quando iniciava sua carreira de merecida fama. Sua obra literária demonstra habilidade de ouvir e contar histórias, dom ainda mais importante para ser um bom médico. O paciente ao procurar um profissional tem algo a contar e quer ser ouvido, e sabe-se que cerca de 90% do diagnóstico se consegue nesta fase inicial do processo semiótico. Exames e máquinas servem para confirmar as hipóteses que se vão formulando enquanto se ouve a história.
Provavelmente este dom o fez excepcional como médico de saúde pública, porque não perdia de vista o indivíduo dentro da multidão, risco ao qual está sujeito quem se distancia para obter a perspectiva populacional.
Fez parte de um fenômeno ainda não bem descrito, nem suficientemente explicado: um grupo grande de médicos recém formados, voltados para saúde pública, fazendo diferença não somente em nosso Estado, mas também no mundo todo, a partir daquela época. Uma vez lhe sugeri que tentasse contar essa história, e ele concordou ser necessário fazê-lo.
Do time excepcional, acho que foi o único que não saiu daqui, embora tivesse se espalhado com suas letras e palavras pelo mundo afora. Alguns ficaram no Exterior, e outros retornaram. Agora, é o primeiro que se vai definitivamente embora.
Eu não fazia parte deste grupo de sanitaristas. Como clínico, era apenas um estranho no ninho, no qual, com certeza, nosso amigo teve papel excepcional para traduzir e facilitar o diálogo, naquela época quase impossível, entre sanitaristas e gente da “academia”. Posso confidenciar sobre sua ajuda para quebrar a resistência do grupo, dizendo “vamos aproveitar para tirar tudo o que ele puder nos dar…”
Assim é que foi possível, há 40 anos, ampliar a agenda de saúde pública, com itens inexistentes que hoje ocupam as manchetes e a mídia de todo o mundo, fazendo de nosso Estado uma incubadora para uma epidemiologia renovada. Além da saúde materno-infantil e das doenças transmissíveis, passamos a considerar também a determinação social de doenças crônicas e não transmissíveis.
Enquanto ele liderava o Departamento de Saúde Pública, junto com sua extraordinária produção literária, foi possível reduzir a mortalidade infantil, consolidar o controle da tuberculose, aliviar hospitais psiquiátricos, conseguir campanhas vitoriosas de vacinação, treinamento de gestores e de pessoal, divulgação de indicadores de saúde, informatização de registros de mortalidade e morbidade, cooperação internacional, pesquisa epidemiológica, programa de controle da febre reumática, do tabagismo, da hipertensão, do diabete, do sedentarismo, dentre tantas outras conquistas.
Enquanto nos deleitávamos com suas histórias, sob sua liderança, com sua inspiração e sensibilidade,  mobilizaram-se profissionais da saúde, políticos e a população, buscando melhor qualidade de vida para nosso Estado.
* Cardiologista
http://zerohora.clicrbs.com.br/zerohora/jsp/default2.jsp?uf=1&local=1&source=a3229931.xml&template=3916.dwt&edition=16629&section=1028

http://www.clicrbs.com.br/zerohora/swf/especial_moacyr_scliar/index.html





Do site da Sociedade Brasileira de Diabetes
Entrevista Reginaldo H. Albuquerque e A.Achutti

http://www.diabetes.org.br/


Achutti diz que Scliar foi um precursor nos cuidados com as doenças crônicas no país

Achutti diz que Scliar foi um precursor nos cuidados com as doenças crônicas no país
Cheguei a pensar num mundo onde, médicos - particularmente os dedicados à saúde pública - fossem isentos ou tivessem algum privilégio frente às taxas de morbidade a que cidadãos comuns estão sujeitos. 

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