Sunday, December 11, 2011

A arte de consolar


PALAVRA DE MÉDICO | J.J. CAMARGO

Caderno Vida ZH 03 Dez. 2011

A arte de consolar


  • Quando alguém sofre uma tragédia pessoal, muitos dos amigos
    considerados mais próximos se afastam, negando o apoio
     esperado na hora difícil. E a amargura tem,  entre outras coisas,
     a capacidade de separar amigos e companheiros, porque esses
    e aqueles se confundem nos momentos felizes, mas são
    dolorosamente depurados nos momentos de dor.

    Claro que haverá sempre aqueles que só servem mesmo
    para a comemoração e  nunca se poderá contar com eles, nem com a escassa utilidade que têm.

    Mas existem os que timidamente se retraem, e na distância sofrem muito pela desgraça do
    amigo, simplesmente por não saberem se oferecer para ajudar, nem o que dizer para confortar.

    Outros, ingenuamente, supõem que se falarem sem parar, estarão desviando o foco doloroso.
    Ridiculamente, relembram experiências tolas, ignorando que no sofrimento mais intenso a
    verdadeira ajuda não consiste em distrair, mas em compartilhar.

    Passado algum tempo, é comum que a reminiscência mais carinhosa daquela passagem
    sofrida não tenha sido o discurso formal, mas um abraço prolongado ou um aperto de
     mão daqueles que se tem a sensação de que não se quer soltar, ou simplesmente a
    cumplicidade de um silêncio.

    Leo Buscaglia serviu de jurado num concurso de histórias infantis e se encantou
     com o relato de um garoto de seis anos que tinha um vizinho idoso, cuja esposa
     havia falecido recentemente. Ao vê-lo chorar, encolhido no quintal, o menino
    pulou o muro e simplesmente se sentou ao lado dele.

    No dia seguinte, a família recebeu um buquê de flores com o agradecimento
    comovido do vizinho.

    Quando a mãe perguntou ao menino o que havia dito ao velhinho, ele respondeu:

    – Nada. Só o ajudei a chorar.

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