Saturday, November 30, 2013

VARIG

Sudade da VARIG
30 de novembro de 2013 | N° 17630

BRINDE AOS PIONEIROS

Luiz Gonzaga Achutti (primeiro à Direita) é meu primo e filho de meu padrinho Elias Achutti


Ex-pilotos evitam falar em crise do fundo Aerus

Eles não perderam o garbo de quem conduziu reluzentes aeronaves, transportou celebridades e vivenciou o apogeu da Varig. Com idades entre 79 e 87 anos, sete remanescentes da primeira turma de pilotos da companhia aérea se reuniram ontem, em Porto Alegre, para celebrar o 60º aniversário de formatura.

No momento de fazer a foto para registrar a comemoração, os veteranos se empertigaram no Salão Amarelo do Hotel Plaza São Rafael. Lá estavam Mario Ungaretti, o Capitunga, 83 anos, Alfredo Jarbas Flemming, 80, Luiz Achutti, 83, Egas Ferreira, 87, Ricardo Costa da Silveira Lobo, 85, Ion Trindade Martins, 82, e Fredy Wiedemeyer, 79, o organizador da festa.

O encontro ocorreu em um momento penoso. O plano de previdência privada Aerus, criado em 1982, deve fazer o último pagamento na próxima terça-feira, porque o dinheiro acabou. A situação é ainda mais complexa porque nenhum dos funcionários demitidos com a falência da Varig recebeu indenização trabalhista. Wiedemeyer observou que a celebração só foi realizada em um hotel porque foi feito um preço camarada.

– É tão lamentável, tão triste, mas não queremos falar sobre isso – disse ele sobre o fim dos recursos do Aerus.

Cercados por familiares, netos e viúvas de ex-pilotos, os veteranos mataram a saudade. Aproveitaram para mostrar fotografias antigas. A conversa fluiu alegre, embalada por uma suave nostalgia.
29 de novembro de 2013 | N° 17629AlertaVoltar para a edição de hoje

AERUS NO LIMITE

Pouso forçado

Ex-comandantes da Varig se reúnem hoje em Porto Alegre para lembrar os 60 anos da primeira turma de pilotos da companhia aérea, às vésperas do fim dos recursos para pagar aposentados do plano de previdência privada do setor aéreo

O pouco que os aposentados da Varig ainda recebem do plano de previdência privada Aerus poderá acabar na próxima terça-feira, dia 3 de dezembro. Terminou o dinheiro depositado a partir de 1982 pelos funcionários – a Varig e outras empresas participantes não contribuíram como deveriam. Mesmo abatidos com o fim da linha do Aerus, veteranos da companhia aérea pioneira no Brasil vão se reencontrar hoje, em Porto Alegre, para lembrar os 60 anos da formatura da primeira turma de pilotos da Varig.

Ex-comandantes, Fredy Wiedemeyer, Alfredo Flemming, Luiz Achutti, Ricardo Lobo, Jair Schütz e Mario Ungaretti são os remanescentes da turma inicial da Escola Varig de Aeronáutica (Evaer). A comemoração será singela, muito diferente dos tempos de glamour do início da aviação comercial: às 10h, haverá uma missa na Igreja São José, no Centro da Capital, seguida de um almoço. A simplicidade da cerimônia traduz a penúria de todos os 17 mil participantes – mil no Rio Grande do Sul – do Aerus. A partir da próxima semana, podem ficar desamparados. Integrante da comissão gaúcha de aposentados, Carlos Henke, 68 anos, conta que o fundo previdenciário está à míngua há anos. Aposentados e pensionistas de escalões médios da Varig recebem R$ 40 por mês. Comandantes e pilotos, que estariam no topo, ganham em torno de R$ 800. Quem já ocupou o posto mais alto da aviação civil agora depende da solidariedade de familiares e amigos.

– O valor pago atualmente é de apenas 8% do esperado – ressalta Henke, que se aposentou como gerente da Fundação Ruben Berta, nome que homenageia o celebrado ex-presidente da Varig.

Ressarcimento poderia salvar fundo

Henke diz que a situação é dramática. Com a falência da empresa, não houve indenização trabalhista aos funcionários. Recebendo migalhas do Aerus, famílias tiveram de raspar a poupança e vender os bens. As mais aflitas são as pensionistas – há viúvas que dependem dos filhos para comprar remédios.

No ocaso da Varig, a Secretaria da Previdência Complementar (SPC), do Ministério da Previdência Social, autorizou a companhia aérea a rolar, por 21 vezes, suas contribuições ao fundo. O dinheiro teria sido usado para manutenção e compra de querosene. Ao falir, não honrou o compromisso com a SPC.

Foi com base nessas renegociações de dívida que sindicatos de aeronautas e aeroviários ingressaram com Ação Civil Pública na Justiça, com o intuito de responsabilizar a União pela situação. A decisão inicial foi favorável aos integrantes do Aerus.

Uma tentativa de reaver parte dos recursos repousa nas gavetas do Supremo Tribunal Federal (STF). A Varig entende que o governo federal deve em torno de R$ 7 bilhões pelos prejuízos causados com o congelamento das tarifas, entre 1985 e 1992. Em maio deste ano, quando se imaginava que o STF julgaria, o ministro Joaquim Barbosa pediu vistas do processo, o que resultou em novo adiamento.

Outro pouso forçado no caminho: 3% sobre a venda dos bilhetes também deveria abastecer o Aerus, durante 30 anos, mas no nono ano uma decisão do Departamento de Aviação Civil (DAC), antecessor da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), cancelou essa fonte de receita. A decisão rendeu uma ação na Justiça, há seis anos à espera de julgamento.

– A gente fica numa angústia, na busca de uma solução – diz Henke.

Interlocutora nas negociações com o governo, a ex-presidente do Sindicato Nacional dos Aeronautas (SNA) Graziella Baggio lembra que quase houve acordo, em 2009. Agora, o assunto é tratado com discrição, para prevenir novas frustrações.

cristian.weiss@diario.com.br

CRISTIAN WEISS E NILSON MARIANO

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