Tuesday, January 28, 2014

Drogadição

27 de janeiro de 2014 | N° 17686

ARTIGOS

Viagens, por Themis Groisman Lopes*

Um novo ano se iniciou e, com ele, sucedem-se as crises e mazelas em nosso mundo. Entre elas, existem algumas de fundamental importância, para as quais nossa atenção deve ser redobrada. São as viagens de desastrosas consequências, cujos passageiros são os usuários das drogas ilícitas, no caso: maconha, cocaína e crack. Ainda que a primeira tenha sido liberada em alguns países e Estados americanos, independentemente de seus não bem provados efeitos terapêuticos, sabe-se que seu consumo crônico acarreta problemas de motivação comportamental.

Ela age nos circuitos cerebrais provocando alterações cognitivas. Onde foi liberada, seu consumo aumentou assustadoramente. Quanto às outras duas, são notórios e comprovados cientificamente os sérios danos que causam. Inclusive com riscos de morte.

São casos de saúde pública e como tais devem ser tratados. Os usuários são doentes que necessitam de atendimento especializado. As políticas governamentais em relação ao assunto são dirigidas para a internação compulsória dos usuários, o que, para a maioria dos estudiosos do assunto, não resolve. Só é indicada quando existem riscos para o paciente ou para outrem.

É básico, em qualquer terapia, estudar a fundo a origem da problemática. O fácil acesso aos produtos, a miséria e os transtornos preexistentes são considerados fatores de risco. No entanto, restringir-se à simplificação desses não levará à sua solução. Faz-se mister que sejam pesquisadas as causas que levam as pessoas ao uso das drogas, quase como uma forma de sobrevivência. A personalidade prévia de cada um, bem como a genética da compulsividade, são elementos quase sempre presentes. Deve ser feito um levantamento psicológico de cada usuário. Em geral, são jovens carentes, de famílias desintegradas, que procuram nas drogas uma fuga para a falta de afeto e cuidados.

O Brasil é grande demais para se dizer que foi vencido pelo crack. Segundo o Dr. Paulo de Argollo Mendes, presidente do Sindicato Médico do Rio Grande do Sul, 80% dos usuários manifestam vontade de serem tratados. Então, o fundamental é como podem ser tratados. Existem os Centros de Assistência Psicossocial (CAPs), onde os drogados são atendidos. O problema é a falta de recursos disponíveis nesses centros para o atendimento global. Deve haver uma equipe de saúde multidisciplinar que se dedique a atender os usuários e suas famílias. A participação das últimas é fundamental. É bem mais confortável para uma mãe ou um pai que acorrenta o filho para afastá-lo das drogas participar com ele dos programas de ajuda mútua.

Existe, em São Paulo, o projeto Amar-Gen (o gene do amor), formado por um grupo de profissionais da saúde e artistas que trabalham com espetáculos teatrais, procurando cooptar pacientes para participarem. Atuam em hospitais, vão às casas dos pacientes e recrutam jovens em praças públicas, para ocupá-los, não simplesmente para fazer uma “limpeza” das vias urbanas.

Somado a medidas terapêuticas, com assistência psicológica e medicação, deve haver um empenho geral do governo, destinando mais recursos para os centros de reabilitação, bem como uma mobilização da sociedade como um todo, na luta para recuperar pessoas, que, na maioria, pedem muito pouco: atenção e carinho. Se medidas assim forem tomadas, posso garantir que esta será uma ótima viagem.
*PSIQUIATRA

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