Saturday, April 12, 2014

Lutar, Fugir, ou...

Artigo remetido para ZH. Não sei se será publicado. Pelas dúvidas...

LUTAR, FUGIR OU...
Aloyzio Achutti, médico.

Lutar ou fugir são as duas alternativas comumente reconhecidas na preservação das espécies para enfrentar situações de risco. Existem mecanismos automáticos preparados para garantir a eficiência nessas horas. A conhecida adrenalina, e outros mediadores semelhantes, são rapidamente mobilizados pelo organismo animal para aumentar a força muscular, acelerar o sistema circulatório, aprimorar a acuidade nervosa, e produzir uma sensação de otimismo para facilitar a ação frente ao perigo.
A experiência prazerosa desta euforia funciona como recompensa e induz o “faz de novo” em busca da sensação que acompanha a resposta ao perigo. Daí a estimulação artificial ou fictícia dos mesmos mecanismos: provocação, disputa, jogo, esportes radicais, literatura, “games”, filme de terror, cigarro, maconha, cocaína, etc... Nessas circunstâncias não é preciso agredir, nem correr, pois o que se busca está no processo e não em sua finalização.
Isso tudo é bem conhecido e extensamente praticado, entretanto, vê-se cada vez mais em uso uma terceira alternativa menos mencionada quanto o “lutar ou fugir”. Trata-se de se esconder, ou esconder o objeto de risco. É uma alternativa também ancestral. O homem primitivo e animais se escondiam em cavernas e outros tugúrios, Adão e Eva se esconderam no paraíso, muitos animais usam tocas, usam mimetismo, ou se fazem de mortos...
Parece haver um paradoxo entre a tendência atual de compartilhar informações e até intimidades (uso da mídia, das redes sociais, GPS, interesse em fofocas, disseminação de novidades), e o hermetismo com que a natureza cerca a individualidade e o ego. Sem licença, não há como penetrar na consciência, nem na memória de cada um.
O expediente de se esconder no labirinto de transações complexas, abuso da burocracia, mensagens aparentemente bem intencionadas, ONGs, OCIPs, instituições públicas ou beneficentes, propaganda política e mercantil, “black blocks”, máscaras, maquiagem, esconder-se na multidão, linguagem científica ou cifrada, criptografia, promessas infundadas, “não sei”, “não vi nada”, "caixa dois", "sobras de campanha", propina, tudo vale pela terceira alternativa, evitando ter que lutar ou fugir.
Os mecanismos de controle contra a ocultação e o engano, terminam servindo como estímulo para criatividade, e novo jogo para burlar a segurança. Foram redescobertos caminhos mais fáceis que as duas alternativas clássicas, poupa-se energia, e o equipamento original fica reservado somente para diversão...  

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