Saturday, January 17, 2015

Professor Luiz Eduardo Robinson Achutti. Paraninfo IA/UFRGS

Nosso filho Luiz Eduardo foi paraninfo de turma de formandos do Instituto de Artes da UFRGS, no dia de hoje. Seguem a foto e seu discurso.
IA, ritos e alegria.

Boa tarde a todos, primeiramente uma confissão, ou melhor, duas: - antes de eu vir para cá minha mulher disse que eu estava proibido de chorar, pois a formatura não era minha. Vou tentar.

Outra: nunca assisti ou participei de uma formatura, nem da minha, lá nos idos tempos das Ciências Sociais. Dito isto, desde já quero agradecer aos meus queridos alunos, que se formam nesta tarde, por esta oportunidade. Muito em breve estarei no tempo para me aposentar – mas não vou me aposentar. Bom, eu nunca tinha sido convidado para ser paraninfo, fico muito honrado e de todo o coração eu declaro. Quero então, assim, no começo parabenizá-los todos e seus familiares, assim como também cumprimentar os demais formandos, cumprimentos ao magnífico Reitor em exercício Ruy Vicente Oppermann, pró-reitores, meus colegas e demais pessoas presentes neste ritual acadêmico na nossa prestigiada Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

Eu também preciso referir algumas coisas, contar uma que outra história, mas prometo ser muito breve. Vejam como são as coisas, em 1948 minha Tia Lia Achutti, filha de um fotógrafo e farmacêutico, entrou aqui na UFRGS, justo no IA, então num dia como este de hoje, no ano de 1951, aqui no meu lugar, falando ou lendo, estava o artista e professor, de saudosa memória, prof. Ângelo Guido formando a minha tia Lia, que um tempo depois ajudou a fundar o Instituto de Artes da Universidade Federal de Santa Maria, além de durante muito tempo também ensinar arte às crianças de lá. Ela está muito bem, tem hoje 87 anos, ainda expõe e participa de eventos no campo das artes visuais. Percebam então meus queridos alunos, o enorme tempo que vocês terão pela frente empunhando a bandeira das artes, trabalhando com arte, pesquisando sobre arte e/ou produzindo belos trabalhos.

Aqui vou confessar uma das histórias de sala de aula na cadeira, disciplina que mais gosto, na qual ensino e praticamos receitas das técnicas fotográficas da fase inicial, pré-industrial, da Fotografia.  Sempre digo para os alunos, que eles é que são felizes, porque no mesmo andar da nossa sala, aqui nesse campus, havia as famosas disciplinas de Cálculo II das exatas, uns alunos lutando no cálculo I, II e os meus fazendo fotografias com pincéis, usando preparados químicos  que seriam levados a luz solar.

Isso para dizer que se dos cálculos um e dois depende o mundo, das artes a felicidade depende.  Eu também dizia, pessoal aqui vocês estão numa bolha de bem estar e fruição prazerosa, enquanto lá fora o mundo quase em guerra. Tudo metafórico claro e espero que assim permaneçamos todos, em busca de crescimento, paz e felicidade.
Acredito profundamente que a Arte é uma forma de ver e viver o mundo, onde quer que seja.  E vocês meus alunos saem preparados certamente com lentes outras para ver o mundo e sei que serão felizes e alegres como sempre os vi serem nas aulas durante este tempo de curso.

A foto que dei de presente para vocês não foi escolhida ao acaso, fotografei-a em 1989 quando fui ao Macapá, capital do Amapá visitar uma região quilombola chamada Curiau. Ainda no carro vi de relance uma casa estranha, muito simples com a fachada mais enfeitada que o todo, desci, fiz a foto e depois me dei conta de que mais parecia um plano cenográfico ou uma grande tela esticada contra o céu.

Assim eu vejo a Arte, como o domínio, o poder de transformar os elementos que constituem a vida para reinseri-los nela. Vejo também como a atividade que leva as pessoas a sonharem de olhos abertos. Os franceses têm dois verbos ‘sonhar’, rêver e songer, este último certamente afeito ao campo das artes, arrisco-me dizer.

Um dia, já tarde da noite, escutei numa rádio parisiense um senhor de bastante idade dando uma entrevista em homenagem a um amigo que acabara de morrer, ele disse uma frase que nunca mais vou esquecer:
“meu amigo fulano foi um verdadeiro artista por que ele soube, como mais ninguém, Encantar a matéria comum, cotidiana – ordinaire em francês mas traduzida literalmente ficaria muito forte em português.

Vocês meus alunos saem daqui para isso, com esta condição, dar encantamento a um mundo que se pode dizer, no geral, um tanto sem contraste, um tanto apagado, comum demais.

Sejam felizes e tenham toda a sorte do mundo, beijos, Muito obrigado.

Achutti, 17 de janeiro de 2015.

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