Não é de surpreender que haja especialistas ainda ignorantes dessas questões, pois até há bem pouco, há menos de dez anos, os Objetivos do Milênio não contemplavam doenças cardiovasculares e doenças crônicas, e por isso tiveram que ser reformulados.
A percepçao das causas das causas das doenças e sua determinação social, são também desenvolvimentos culturais que se realizam muito lentamente, pela curta visão de quem não consegue ver além de interesses imediatistas, dos fenômenos químico-farmacológicos e da dimensão biológica, como se a vida se limitasse aos tubos de ensaio, às cobaias em laboratório, a pacientes internados, retirados de seu ambiente de trabalho, submetidos a exames tomográficos, ou deitados em mesas cirúrgicas...
Foi também em 1978 que aconteceu o encontro do qual resultou a Declaração de Alma-Ata, cuja mensagem básica promovida pelo Diretor da OMS na ocasião - Halfdam Mahler - era: "se a ciência não descobrir mais nada de novo, mas o acesso aos recursos básicos fore estendido a toda a população, haverá muito mais saúde no mundo".
Acompanhamos o desenvolvimento da cardiologia nacional, a criação do setor de epidemiologia no Funcor e depois do respectivo departamento, a aproximação dos especialista ao Ministério da Saúde e participação ativa nas definições de políticas de saúde nos diversos níveis de organização nacional.
Eu dizia que o sucesso de um emprendimento já encerra o germe do esquecimento, na medida em que se perde o interesse pela grande novidade.
Nossa intenção ao apresentar o artigo não tinha unicamente a finalidade de comemorar uma façanha, mas principalmente de não deixar esmorecer uma linha de desenvolvimento cuja necessidade fica evidente já pelo fato de ter sido preterida pelos guardiões do principal instrumento de difusão cultural da cardiologia nacional.
Autores: Aloyzio C. Achutti e Eduardo
de Azeredo Costa
Em 1978, a
Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ), com recursos do Programa PEPPE/PESES, oriundos
da Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP), com o apoio da Secretaria da
Saúde e do Meio Ambiente (SSMA) do Estado do RS, conveniaram desenvolver um
estudo epidemiológico pioneiro no hemisfério sul, focado na medida da Pressão
Arterial e outros fatores de risco para doenças crônicas, em amostra estratificada
e representativa da população adulta (de 20 a 74 anos) do Estado.
A equipe
central da pesquisa estava formada pelos autores dessa memória: coordenador
Eduardo de Azeredo Costa (professor titular de epidemiologia da Escola Nacional
de Saúde Pública – ENSP/Fiocruz)[1],
co-coordenador Aloyzio Achutti (chefe do Serviço de Prevenção de Doenças
Crônico-Degenerativas da SSMARS)[2],
sendo coordenadores das equipes de campo Carlos Henrique Klein, Maria do Carmo
Leal (ambos professores da ENSP) e Sérgio Bassanesi (médico da SSMARS). O
suporte administrativo no ERS foi providenciado pela Escola de Saúde Pública
(ESP) e de laboratório pelo Instituto de Pesquisas Biológicas (IPB), ambos da
SSMARS.
O
delineamento do estudo utilizou uma amostra probabilística estratificada
baseada no cadastro do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)
da qual constavam 2.056 domicílios, nos quais foram examinados 4.565 indivíduos
(94,4% do planejado), distribuídos por quatro estratos: Porto Alegre, Cinturão
Metropolitano, Interior Urbano e Interior Rural, com a assessoria estatística
da prof. Célia Landmann da ENSP/Fiocruz.
Foi feita
uma adaptação do esfigmomanômetro de coluna de mercúrio para diminuir a
tendenciosidade do observador e testado o mesmo./.../
[1] O dr. Eduardo Costa discutira no ano anterior seu
projeto epidemiológico com o Prof. Geoffrey Rose (cardiologista com
inestimáveis contribuições para a epidemiologia cardiovascular e autor de
normas para tais estudos da OMS) da “London School of Hygiene and Tropical
Medicine (LSHTM)” recebendo referências técnicas importantes para o mesmo.
[2] O dr. Aloyzio Achutti, cardiologista e professor da
Faculdade de Medicina da UFRGS, tinha ganho elevado prestígio na área da Saúde
Pública nacional, o que acabaria por o aproximar de Eduardo Costa, criando as
condições para a realização do acordo e estudo, que teve amplo apoio de todas
as áreas relevantes da SSMARS.
Lamentável. Sem saber como chegamos até aqui não poderemos avançar. A limitação da capacidade de avaliar um conteúdo desse valor compromete qualquer periódico. Lamentável.
ReplyDeleteLamentável a decisão editorial dos ABC... certamente gente jovem que não sabe que o Prof. Achutti antecipou em pelo menos 30 anos aqui no Rio Grande do Sul e depois no Brasil, a incorporação da Prevenção das Doenças Cardiovasculares na agenda da Saúde Pública...
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