Thursday, August 01, 2019

Dominguinhos...

Não trabalhei diretamente com ele, mas foi referência em minhas lides com o início da cirurgia cardíaca no Brasil e operou vários de meus pacientes. Também assisti várias atividades científicas em Congressos da SBC com sua presença.


Nota de Falecimento: Domingos Edgardo Junqueira de Moraes A imagem pode conter: 1 pessoa, sorrindo

A medicina perde um dos pioneiros da cirurgia cardíaca no Brasil. O cardiologista foi professor titular de Cirurgia Cardiovascular na Faculdade de Medicina da UFF 
A Sociedade Brasileira de Cardiologia informa com imenso pesar, o falecimento do Prof. Dr. Domingos Edgardo Junqueira de Moraes, mineiro de Carmo de Minas, que se especializou em cirurgia cardíaca na década de 50 nos Estados Unidos e trouxe a técnica para o Brasil. Estudou medicina na UFRJ, antiga nacional, estagiou na Policlínica Geral do Rio de Janeiro, onde teve a oportunidade de trabalhar com o grande expoente da cirurgia brasileira, Fernando Paulino, que era chefe da instituição.

Em 1956, foi para os Estados Unidos para aprender cirurgia com circulação extracorpórea. Um ano depois, trouxe para a Casa de Saúde São Miguel, no Rio de Janeiro, o conhecimento e o instrumento necessário – financiando por Fernando Paulino – para implementar pioneiramente os alicerces da cirurgia cardíaca no Brasil de maneira rotineira. Foi o início de uma nova era na história da Medicina e da cirurgia no país.

Pouco depois, Domingos melhorou a perfusão e solucionou o que dificultava tantas cirurgias e diminuía a expectativa de sobrevida de tantos pacientes.

O sangue que era direcionado na circulação extracorpórea foi substituído por plasma e soro fisiológico, surgiu a hemodiluição. A técnica era usada em cirurgias cardíacas em todos os estados brasileiros e foi considerada como uma das 20 maiores contribuições da cardiologia brasileira para a cardiologia mundial.

O cardiologista foi professor titular de Cirurgia Cardiovascular na Faculdade de Medicina da Universidade Federal Fluminense (UFF). Na vida acadêmica, o professor Domingos defendeu três teses de livre docência. Uma delas sobre o tratamento cirúrgico da insuficiência coronariana, com vários pacientes operados de ponte de safena e mamária durante setembro de 1967 a março de 1970.

Como funcionário do INAMPS, hoje o SUS, foi chefe do serviço de cirurgia cardíaca no hospital da Lagoa, desde o início da década de 1970 até 1986, quando se aposentou. Recebeu na sua vida profissional várias homenagens e honrarias no Brasil e nos EUA.

A Sociedade Brasileira de Cardiologia se solidariza com os familiares, colegas e amigos nessa perda irreparável. 

Depoimento de Milton Meier
Eu nunca o chamei por Dr. Domingo, era sempre Domingos, você, e uma vez ou outra Dominguinho. Eu o conheci quande se preparando para a Livre Docência veio praticar operações em cadáver, na Anatomia da Praia Vermelha.
Ficamos amigos, daí a minha intimidade com ele a despeito da diferença de idade. Passei a vê-lo operar na Casa de Saúde São Miguel.
Foi o Domingos que tornou em realidade o meu sonho de juventude de ser cirurgião cardíaco. Trabalhei com ele por pouco mais de 5 anos na São Miguel e no Hospital Silvestre.
Me visitou durante a minha residência em Chicago, Hospedou-se na minha casa, Frequentou diariamente o hospital da Universidade de Illinois e me viu operar muitas vezes.
A despeito de quase seu filho tornei-me independente, mas mantive a amizade e a grande admiração pelo seu intelecto e criatividade.
Ontem, no dia do meu aniversário o coração do Domingos pulsou pela derradeira vez. Não morreu um homem comum. Morreu um gigante de pequena estatura. O cirurgião que sem nunca ter um grande hospital para apoia-lo foi o segundo cirurgião a operar corações com visão direta, na América Latina.
Nunca vamos nos esquecer do Domingos. Choremos o homem mas, nos alegremos por ter existido.

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