Tuesday, February 04, 2020

Maranatha

Abaixo segue o verso de um cartão postal que recebi na década de 80 de um grande amigo - Pe. Ernesto Greiner - Dando notícias de sua estada num sanatório da Alemanha enquanto se recuperava de um infarto. Enviei uma copia para uma grande amiga e vizinha - Da. Marila Fay de Azambuja -  em cuja residência ele também morara. O filho dela - Dr. José Inácio Fay de Azambuja teve a gentileza de me enviar um texto poético de nosso amigo que eu ainda não conhecia, permitindo-me que o compartilhasse.
Mais sobre o Ernesto publicado anteriormente: 
http://amicorextension.blogspot.com/2013/02/ernest-greiner-07051917-17021987.html


MARANATHA

A Lenda de uma Flor.

Ernest Greiner.


“Reza antiga lenda que, aos homens expulsos do Paraíso, entregou Deus uma flor, para que, em terra alheia, recordassem sua Pátria”.

“Esta flor, diz ainda a lenda, é o anseio de felicidade...”

O homem associa sempre a felicidade à Pátria, ao berço, à infância... Ela é a nascente cristalina, a doçura do olhar... É a firmeza no andar, som familiar de cantiga materna, solenidade de domingo... Aconchego dos primeiros hábitos, refúgio do coração assustado... É a encarnação do espírito que vagueia pelos espaços...

Ter Pátria é ser criança.

Mas o homem é designado a ser adulto. Há de trocar o berço pela estrada. O pai deixa de ser a rocha inquebrantável. Descobrem-se lacunas na sabedoria da mãe. A fortaleza do lar passa a mostrar rachaduras. As fronteiras de cada ser aparecem com crescente nitidez no mapa de nossa juventude. Somos expulsos do paraíso das alianças absolutas: “minha Mãe é a única... Minha Terra... Minhas raízes, meu calor e meu lar... Minha gente”.

Chega o dia em que a madrugada amiga estremece. Aconchegos são sacudidos pela consciência de distâncias. Confianças são abaladas pela descoberta dolorosa da relatividade.

Agita-se, então, o homem nos preparativos da viagem. E seguem-se os adeuses dolorosos, mas necessários. Porque o adulto não tem direito de fixar sua morada na infância. Deve crescer, sofrendo as amarguras da limitação que lhe inspira o medo. Das distâncias que o mergulham na solidão...

Com a lâmpada da ansiedade acesa, parte em busca de novas terras para a sua inteligência... De novas residências para o seu amor, de novos desafios para seu espírito combativo. Seja-lhe o berço preciosa recordação. O risco da estrada é a sua vida.

O homem fixado teme a saída de si. Desconfia de tudo. Evita os encontros. Odeia os outros. Julga inválido tudo o que não traga a marca do seu coração acorrentado.

Para ser adulto é preciso ser estrangeiro dentro do mundo. A criança só acredita no seu mundo. O estrangeiro reconhece o outro como o outro. Sua inteligência não é presunçosa. Seu coração está à escuta... Sua sensibilidade se comove com a beleza inédita de novas paisagens...

O estrangeiro é o homem autêntico. Ele não desconhece a verdadeira fraternidade porque nele o partir e o chegar se saúdam.

É preciso que a flor da ansiedade, que trazemos do paraíso perdido, não murche. Percorrer com ela a caminhada do nascedouro até o oceano é entender o verdadeiro sentido das coisas: os berços e as pátrias deixam de ser prisões ou refúgios. As estradas não são mais rastros falazes que se perdem nas areias infindas do cansaço. Os outros passam a ser moradas para os nossos corações.

MARANATHA – o que o homem ama na recordação e o que ele vive no sonho... O que anima suas andanças e o que não o deixa perder-se na estrada!                                                                                      

MARANATHA – o que conduz o homem de longo percurso!



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