Friday, June 05, 2015

Recompensa


05 de junho de 2015 | N° 18184

ARTIGO Jornal Zero Hora

RECOMPENSA, POR ALOYZIO ACHUTTI*

Emoções, tanto o amor quanto o ódio passam pelo circuito da recompensa (reward, na literatura inglesa). Não é novidade sua importância neuropsicológica. As experiências de Pavlov, sensações e reações de prazer e dor, as teorias do aprendizado, dependência química ou psicológica, tudo aponta na mesma direção. Fazem parte da interação entre seres vivos e com o resto do ambiente. Têm a ver com evolução, sobrevivência, preservação da espécie, adaptação, comportamento, atitude e cultura.
A nutrição na vida fetal, a satisfação da fome através da amamentação, o calor materno, a própria percepção do pulsar do coração da mãe denunciando sua presença, seus cuidados e primeiras lições de sobrevivência, nos marcam do mesmo modo de forma indelével.

Fome, frio, dor, carência afetiva, frustrações, levam-nos a buscar alívio ou compensação. Este mecanismo, de tão forte, pode levar à dependência e até substituir o objeto primário da função. A memória do caminho do sucesso redireciona a busca e pode tornar mais fácil o prazer no jogo para alcançar a recompensa, do que a satisfação do impulso inicial.

Recompensa parece ser apenas a via positiva de um mesmo caminho, em cuja contramão andam castigo, ódio, e vingança.

Carinho, elogio, comércio, salário, propina, negociações políticas, toma lá dá cá, tudo pode encontrar sentido e explicação em estruturas neuropsicológicas. A dificuldade está em sua utilização adequada e dose certa. Utilizamos continuamente recursos naturais. Entretanto, a exploração abusiva pelo próprio indivíduo ou por outros, de tudo que a vida e a natureza nos proporcionam, pode ter curso desastroso.

É sabido que na raiz da violência urbana estão a falta do carinho materno, da segurança familiar, a desigualdade e a marginalização social. As tentativas de correção tardia dos problemas com punição e cadeia vêm na contramão, e resultam no que vemos todo o dia: drogadição, aumento da criminalidade, corrupção e prisões lotadas.

A discussão para encontrar os melhores caminhos para a sociedade e as definições de prioridade política já se encontram depravadas pela troca de favores e abandono da racionalidade.

Afinal pode-se chegar à conclusão de que o comportamento social é praticamente o mesmo, tanto nos estratos marginais quanto nos mais desenvolvidos. A diferença não está na motivação que nos move, mas apenas nas aparências, na sofisticação, e na linguagem, todos estamos estimulando nosso circuito da recompensa.

*Médico

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