Thursday, October 11, 2018

Santa Casa, FAMED, Érico

Anteontem, dia 09 participei de um painel com Waldomiro Manfroi, Carlos Gottschall, coordenados pelo Presidente da Academia - Dr. Gilberto Schwartsmann - no Centro histórico e Cultural da Santa Casa celebrando os 2015 anos da instituição e os 120 da fundação da Faculdade de Medicina de Porto Alegre, agora da UFRGS, anunciado em postagem anterior.
Provocando-me para falar sobre o Professor Eduardo Zaccaro Faraco, em cujo Serviço da Enfermaria 38o. eu trabalhara, o coordenador me perguntou sobre o Érico Veríssimo entre os quais houve grande amizade. Faraco montou na casa do Érico uma CTI para atendê-lo quando teve um infarto do miocárdio e levou seus assistentes entre os quais estava eu. Não lembrava do que Manfroi relatou e acrescentou em mensagem de ontem cujo texto segue abaixo transcrito. Ele, ainda como estudante de medicina, por atuar na Cardio-Clínica, montou a tenda de oxigênio.
Segue a transcrição da mensagem e, bem ao final um link meu para outra postagem minha no Blog AMICOR sobre o Érico
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Primeiro devo agradecer pelos momentos maravilhosos que desfrutamos ontem na nossa roda de conversa. Agradecer também a carinhosa acolhida do público que nos prestigiou no Cento Histórico Cultural Santa Casa. Quando o Prof. Achutti passou a descrever o atendimento médico do escritor Érico Veríssimo, por ter sido acometido por enorme emoção, passei a mão no microfone para falar. Mas, pelo fato de o tema não estar relacionado ao meu espaço me contive. Como fui eu que instalei a tal de tenda de oxigênio, mando para você então o que iria revelar. Cena que faz parte do meu romance Tempo de viver que foi escrito em 1980.
Obrigado pela oportunidade. A cena mais longa se encontra no romance
Manfroi 
  
EXCERTO DO ROMANCE TEMPO DE VIVER- PÁGINA 92

SOBRE O ENCONTRO DE UM ESTUDANTE DE MEDICINA COM SEU HERÓI: ÉRICO VERÍSSIMO 1980
  
Eu me criei no interior. Estudei alguns anos numa cidade que era a terra natal de um dos maiores escritores de todos os tempos do nosso Estado e um dos grandes escritores brasileiros. Como era de se esperar, nós, estudantes da cidade, tínhamos verdadeira veneração por ele. A nossa esperança, a nossa grande fantasia, nosso imenso desejo era o de um dia, mesmo que fosse somente um dia, conhecê-lo, cumprimentá-lo ou convidá-lo para nos contar de como fazia para dar vida àqueles personagens tão reais e tão nossos.
Mas como eu ia dizendo, num sábado à noite, telefonaram para levar um tubo de oxigênio à casa de um paciente que estava passando mal, pois havia sido acometido de infarto. Eu, até chegar à casa do enfermo, não sabia para quem era o oxigênio, pois quem anotara o nome e o endereço havia sido o motorista, e como é normal, para ele, tratava-se de mais um doente, como tantos que existiam na cidade.
Mas, qual não foi minha surpresa! Ao entrar no quarto do paciente, além de encontrar reunidos, num pequeno espaço, os médicos mais competentes e mais famosos da capital, professores da faculdade, meus professores, meus ídolos da época, estendido no leito estava meu ídolo maior, o homem das minhas fantasias literárias e o criador dos meus heróis fantásticos e inesquecíveis.
Reconheci-o logo e, no meio de tanta emoção, tive muitas dificuldades para instalar a tenda de oxigênio sobre o seu leito. Naquele tempo se usava oxigênio em tenda. Era uma barraca de plástico que envolvia toda a cama do paciente e dentro dela se fazia fluir o oxigênio.
O médico calou-se, por instantes.
- Eu aqui, participante invisível dessas conversas, enquanto aguardo que os médicos comecem logo o tal de cateterismo cardíaco, posso observar que os mais jovens se entreolham incredulamente, quando lhes é dito de como se usava o oxigênio naquela época.
Volta a falar o chefe da equipe.
- Depois que instalei a tenda, me recolhi ao meu mundo privado das emoções e fiquei implorando com minhas preces de fé que ela fosse um manto protetor, que pudesse resguardar meu herói da maldição da voz arrastada, da pele fria, do pulso fraco, da respiração ofegante, do olhar baço e do sono profundo e irreversível.
Minhas preces, quase súplicas, foram atendidas.
Seu sorriso dócil e matreiro se refez e ele se manteve entre nós e para mim, a partir desse dia, bem mais próximo, por mais alguns anos.
Seu sono, somente transitório e não definitivo, lhe propiciou as condições para, ao se utilizar do refúgio necessário, vencer as tempestades violentas do momento e contar, a seu modo, em versos disfarçados, a verdadeira história do momento político presente.
Waldomiro Manfroi


Colega e amigo Achutti. Muito obrigado por teres postado meu texto no teu muito prestigiado blog. Apenas um reparo, eu era estudante e trabalhava no Pronto Socorro Cruz Azul. A Cardioclínica fui fundado muitos anos depois, 1970.
Um abraço
Manfroi

Em Ter 9/10/18 21:54, Aloyzio Achutti achutti@gmail.com escreveu:
Aos caríssimos, grato pela companhia.
Como o coordenador do talk-show de hoje de noite disse que eu deveria publicar as observações sobre o Érico, estou repassando link para uma postagem minha no Blog AMICOR de 2012, com um texto que parece ter sido escrito em 2005.
Um abraço
AA

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