Thursday, October 11, 2018

Transcrevendo Maria Inês Reinert Azambuja

O Talk-Show do Centro Histórico-Cultural da Santa Casa do último dia nove continua rendendo. Dra. Maria Inês o assistiu, e acaba de enviar uma mensagem que me ajuda a emendar uma conversa para a qual eu havia me preparado, mas que a exiguidade do tempo, bem coordenado, não permitiu que eu abordasse.
É assunto importante, particularmente em tempos de desencanto, e de uma cultura que se ilude com o artificialismo, inebriada pelas maravilhas da "Inteligência Artificial"...
O desenvolvimento desse tópico terá que ficar para outro momento, mas me permite enunciar o que faltou na minha participação: |Na Santa Casa, na Enfermaria 38 eu encontrara um "nicho"  na Cardiologia Pediátrica e na Febre Reumática, mas em seguida (na década de 1970) eu me afastei da Santa Casa carregado por uma onda que já se avolumava pelo mundo - divergindo da super-especialização - que começou na descoberta de que os problemas de saúde, tidos como peculiaridade dos ricos e países desenvolvidos, existiam também - e em maior quantidade - entre os pobres e os não tão desenvolvidos. Também que saúde materno-infantil, desnutrição e doenças infecto-contagiosas não deveriam ser os únicos objetivos de saúde pública e domínio dos sanitaristas. 
"Se nada mais a ciência descobrisse, mas se o que já existe fosse estendido para toda a população, haveria muito mais saúde em todo o mundo no ano 2000..." Assim falou o Diretor da OMS, Horowitz em 1972. Depois, meu amigo Geoffrey Rose (apresentado pelo Eduardo Costa), cardiologista inglês, que ajudou a desenvolver a epidemiologia cardiovascular, chamou atenção que as causas das causas da saúde/doença, em geral se localizam fora do setor saúde e do alcance dos braços dos médicos isolados.
Assim, a partir da Santa Casa, fui arrastado pelo mundo afora, tentando construir uma ponte entre os sanitaristas e os médicos superespecialistas e a população. 
A onipotência médica não vai curar as doenças nem devolver a saúde à humanidade.
Mais uma vez não tive chance de transmitir minha mensagem, provavelmente porque ela não leva à capitalização das conquistas ao domínio de super-heróis (visão infantil), mas depende de um esforço comum...
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Dra. Maria Inês enviou a seguinte mensagem:

Que lindo, Prof. Manfroi... Para o senhor, que já na época devia aspirar ser um romancista, imagino como foi encontrar e atender seu ídolo... 

Tenho acompanhado as conversas dos alunos e a preocupação dos professores com relação à ansiedade e depressão durante o curso.
Vejo os alunos sempre muito preocupados com passar nas provas, com a demanda que eles julgam excessiva, com a competição pelo ordenamento - que acho que não havia no meu tempo - com a pressao por ingressarem em projetos de pesquisa mesmo que não se interessem por isto, ... E parece que falta este horizonte mais amplo... o sonho, sentirem-se inspirados ou apaixonados o bastante para fazerem o sacrifício necessário sem sofrimento, porque tem curiosidade, querem saber mais... Lembrei aqui do relato sobre Paglioli dissecando cérebros de madrugada. Ou de uma vez que o Dr. Achutti me contou que, durante a residência, conseguia a autorização de familiares de praticamente  todos os pacientes que morriam para a realização de necropsia, e que acompanhava todas elas. Claro, estamos falando de profissionais que se destacaram... mas como inspirar mais alunos? 

Inclusive para a administração e a política! A medicina está cada vez mais inserida numa grande engrenagem de "health services" na qual os médicos tem tido cada vez menos voz, e aqui no Estado, principalmente, reagido contra... Como valorizar para os alunos as carreiras administrativas de grandes médicos que também foram reitores, prefeitos, ministros de Estado, e contribuíram para termos as instituições que temos hoje, como o complexo da Santa Casa, o HCPA e o SUS?

Vocês que conhecem a história poderiam nos contar mais, e aos alunos,  sobre isto?

abs
Maria Inês

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