(Para comemorar o dia de amanhã - dia do médico - enviei este artigo para ZH, mas não sei se será publicado. Em todo o caso quero compartilhá-lo com vocês, enviando meu abraço)
O MÉDICO CIDADÃO
Aloyzio Achutti. Médico
Temos consciência do muito que já fazemos para recuperar a saúde perdida e tentar preservá-la quando em perigo, mas ainda falta muito, pois as causas subjacentes, tanto da doença como da saúde, estão fora de nosso setor específico de atuação, e somente nossos braços não as alcançam.
Saúde não é assunto só de médico. As doenças dos indivíduos que atendemos são sintomas de doenças sociais, e aqui, social, não somente com foco na baixa renda ou na pobreza.
Já sabemos de há muito que quanto mais complexa a atividade exercida, tanto mais dependemos de outros profissionais da saúde e de infra-estrutura que nos apóiem. Dependemos da vontade do próprio paciente querendo se recuperar, observando nossa prescrição.
O agricultor sabe que sem preparar a terra, sem adubar, cuidar do inço e das pragas, da época do ano mais adequada, e de proteger as plantas enquanto crescem, não adianta plantar nada.
O engenheiro sabe que antes de começar a construir o edifício, tem que cavar a terra, precisa construir no sentido contrário, fazer boas fundações para que o prédio não venha a ruir.
O advogado também procura a jurisprudência, sem o que fica muito difícil defender o caso específico de seu cliente.
O comerciante tem experiência com a propaganda, sem a qual, e sem colocar seu produto a vista, com boa aparência e preço razoável, não vai conseguir vender.
A famigerada CPMF, no início foi também coisa de médico, tentando conseguir mais recursos para um setor que é sempre deixado para trás. Esperam para repartir depois de o bolo crescer, sem se dar conta de que sem saúde integral (com todos seus componentes essenciais de qualidade de vida) não se chega lá. O problema é que colocaram olho grande no que era para ser uma contribuição, tornando-a mais um imposto, desviando de seu destino.
Não podemos ser ingênuos permitindo que nos espoliem, e mais uma vez intermediários se intrometam e se aproveitem de nossas soluções. Precisamos fazer valer todo nosso potencial e conseguir parceria com os demais setores da sociedade, com a educação, com o comércio, com a indústria, a justiça, a agricultura, e tantos outros, para todos entendermos que saúde sem cidadania não existe.
Seria bom que pensássemos e tentássemos arregimentar esforços para além de nossos casos clínicos e de nossas ciências e técnicas biomédicas, para salvar não somente nosso enfermo, mas também a sociedade que adoece o cidadão, para poder devolvê-lo sem recaída.
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