ARTIGOS
Socializando as perdas, por Aloyzio Achutti*
Primeiro era o G-7 (Estados Unidos, Canadá, Inglaterra, Japão, França, Alemanha e Itália), depois o G-8, com a entrada da Rússia, e o convite para Espanha e Holanda. Agora é o G-20, grupo do qual participam o Brasil e outros países ditos emergentes, até recentemente submersos (parafraseando a designação atual), trancados do lado de fora, sem direito a palpite.
O clube fechado inicial representava apenas 13% da população mundial. A expansão atual incorporou metade do mundo.
Eram sete ou oito amealhando a metade de todas as riquezas e decidindo pelo destino de quase 200 países, onde vivem mais de 6 bilhões de habitantes.
Agora sentam-se à mesa de negociações representantes da metade da população mundial, juntando mais um quarto da riqueza global. Se não fosse a crise atual, seria de se estranhar esta abertura, pois o esperado seria o fechamento do grupo para continuar concentrando capital.
Fala-se bastante sobre a surpreendente ressurreição do Estado intervindo no mercado, que deveria ser livre para se auto-regular; mas a tal da abertura para economias menores tem se contemplado apenas como uma vantagem da crise, dando chance aos emergentes para romper barreiras.
Uma explicação mais plausível poderá estar relacionada com a socialização das perdas, a modo da bem conhecida socialização da miséria...
Parece mais fácil pensar assim do que assumir que os donos do capital tenham se convertido com a crise, cometendo dois pecados mortais: o da intervenção do Estado sobre o mercado e o da abertura social.
Este panorama global também espelha nossa situação interna, pois de nossa riqueza nacional menos da metade é fruto do trabalho, o restante corresponde a aventuras financeiras semelhantes às que estão na raiz da crise mundial.
Não se trata apenas de dinheiro e especulação. Enquanto pouco mais de um dentre 10 habitantes do planeta consome a metade dos recursos energéticos, espoliando, poluindo e provocando o aquecimento global, há diferenças significativas na extensão e na qualidade de vida. Os privilegiados chegam a viver em média mais 10 a 20 anos, sem falar de incapacidade, sofrimento e doenças.
Enquanto o saldo era positivo, o acesso aos recursos ficava restrito, agora que há um déficit, buscam-se parceiros para dividir as perdas, esquecendo-se a falta de reservas dos que sobram, que também vêm pagando pesado tributo para manter a desigualdade.
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