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Thursday, October 08, 2009

Nobel

Zero Hora: 08 de outubro de 2009 | N° 16118

ARTIGOS

Nobel, por Aloyzio Achutti*

O Prêmio Nobel mais uma vez chama atenção para conquistas maravilhosas da humanidade sobre a vida, como ela se preserva e funciona, e onde se localizam pontos vulneráveis na intimidade do organismo.

Na época da fundação do prêmio, o mundo estava deslumbrado com as descobertas da fisiologia e da aplicação dos novos conhecimentos no tratamento de doenças. Aos poucos, foi ficando evidente que isso não bastava, por estar o desarranjo das funções profundamente ligado à sua utilização, como nos relacionamos com nossos semelhantes e com o meio ambiente, no qual e do qual vivemos.

Os conceitos evoluíram e hoje não se discute mais sobre a importância da determinação social e ambiental da saúde e da doença, motivo pelo qual cientistas de renome estão propondo incluir Saúde Pública e Meio Ambiente como novas categorias ao lado da atual de Medicina e Fisiologia.

A questão que se impõe é como conscientizar a população e as agências de fomento a valorizar o que está fora do indivíduo, e como enfrentar tantos conflitos de interesse.

O próprio prêmio ajuda a distrair a atenção do uso que se faz da ciência, do mundo, e de sua população, só restando uma grande categoria, como a da paz, para acomodar conquistas desta natureza.

É possível que saúde pública seja um tema exageradamente abrangente para figurar na lista, já que física, química, matemática, economia e qualquer outra disciplina – em sua aplicação – terminam repercutindo nela e no meio ambiente.

Assim como a riqueza derivada da descoberta de explosivos – útil para destruir ou construir, na dependência de sua aplicação – serviu para criar o Prêmio Nobel, o mesmo acontece com toda conquista humana.

No tempo de um século, um dos maiores desenvolvimentos pode ter sido o da ruptura das barreiras, dos domínios intransponíveis, da descoberta das riquezas que se escondem nas interfaces, nas inter-relações e na comunicação.

As categorias clássicas, entretanto, continuaram com sua prospecção independente, feita em direção ao detalhe, ao micro e ao macrocosmo que, embora nos enriquecessem, nos distanciaram do mundo real onde tudo de fato acontece de maneira integrada.

A introdução da economia na lista já foi um passo no sentido da modernidade, da integração e da globalização.

Assim como as conquistas da fisiologia no conhecimento da natureza humana permitiram que a medicina curasse e prevenisse muitas doenças e prolongasse a vida, é possível que se forem valorizadas e premiadas as conquistas sobre a fisiologia social, sobre as relações humanas e sobre nosso meio ambiente, do qual dependemos, seja possível melhorar a qualidade de nossa frágil vida e estendê-la por mais tempo neste mundo.

*MÉDICO

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