Médicos (Pr)escrevem: Os cem anos da Faculdade de Medicina ...
books.google.com.br/books?isbn=8585627530ALOYZIO ACHUTTI Nascido em Santa Maria em 1934, de famílias com ascendência libanesa, italiana, alemã e judia. Formado na URFGS em 1958, onde hoje é Professor. Especialista em Medicina Interna e Cardiologia, tem se dedicado ...- Hoje, pesquisando sobre Dr. Erio Brasil Pellanda, falecido há uma semana, obstetraque foi de minha esposa Dra. Valderês Antonietta Robinson Achutti, me deparei naInternet com o Livro "Médicos (Pr)escrevem 4" de 1998, organizado pelos colegas Blau Souza, Fernando Neubarth e Franklin Cunha, no qual ele foi autor de um dos textos.
- Eu também colaborei para o mesmo livro com o título "Faculdade de Medicina da URGS, reminiscências", Como meu texto não está acessível, pretendo abrir um link para um arquivo específico..
- Gostei de revisitar o que escrevi e por isso transcrevo abaixo apenas uns poucos parágrafos.
- Tudo que aprendi, ao menos assim ficou em minha memória, me estimulava a analisar, a desmontar, a caminhar em direção ao microcosmo. Certamente esta tendência não era peculiaridade de nossa escola. Aí estão as grandes conquistas da biologia, partindo do cadáver, chegando hoje ao nível molecular. A linguagem que se usa hoje, desde a terminologia até os conceitos, seriam quase incompreensíveis há 50 anos atrás. Nada nos animava a congregar, a reunir e buscar uma síntese. A idéia do coletivo em saúde não a descobri durante meu curso. Os sistemas orgânicos se constituiam nas unidades básicas em torno das quais se organizava nosso estudo e nossas atividades. A primeira divisão era dicotômica, com uma abismo intransponível: entre corpo e mente. No corpo, tudo se repartia entre: músculo-esquelético, respiratório, cardiovascular, genito-urinário, etc...Endócrino e Neurológico eram sempre os últimos capítulos dificilmente alcançáveis durante o tempo do período letivo.Desconfiava que tudo estivesse integrado, muito além do sistema cardiovascular, mas ninguém sabia dizer como, com muita convicção.Se juntar as partes de uma pessoa era difícil, muito mais ou impossível era juntar as pessoas entre si. O mundo era formado de sistemas orgânicos, casualmente justapostos e misteriosamente inspirados por eflúvios mentais, inteirando-se com bactérias assassinas (não existiam micro-organismos bonzinhos e os vírus tinham um papel absolutamente secundário, raros e consituindo-se em mera curiosidade, por nada de prático a fazer com eles). Substâncias químicas somente existiam aquelas que ingeríamos intencionalmente ou nos expunhamos acidentalmente. No mundo físico existia quase que só o calor, o frio e raramente a eletrocução e a fulguração.
Populações, nada tinham a ver com medicina, era assunto para políticos. Comportamento, só interessava àqueles que se metiam em psiquiatria, e nos preocupavam apenas os grandes desvios da normalidade, às vezes ligados a algum tumor cerebral... - Comentário da Dra. Maria Inês Reinert Azambuja
- Acho que esta fragmentação do conhecimento aumentou ainda mais de lá para cá... com a sub-especialização, a genética clínica, os ensaios clínicos com base na epidemiologia da caixa-preta (sem teoria causal).Mas é uma questão de balanço... Em todas as épocas tivemos pessoas que pensaram mais integradamente. Nos últimos 100 anos, foram minoritárias mas isto está mudando. O pêndulo começa a retornar... e acho que não por acaso... A situação que vivia a Europa em 1850 - auge da Medicina Social, dos miasmas como paradigma dominante na Medicina - vivemos hoje nas nossas cidades dos países menos desenvolvidos... e as epidemias estão de volta...Estou escrevendo sobre isto..PS - Nasi, como internista que também sou, acho que a Medicina Interna é insuficiente para integrar o conhecimento no nível que precisaríamos, pois a questão é de recorte ... precisamos uma reorganização na forma de pensar a causalidade, a patogênese... De novo sou otimista... Minha aposta aqui também é um retorno às teorias hipocráticas dos humores, mas claro, informado pelo que aprendemos na nossa viagem ao nível biomolecular...Acredito que veremos nos próximos anos um crescente interesse nos padrões de vulnerabilidade à doença em expostos, em marcadores de vulnerabilidade.... O que interessa não é só a exposição, tão enfatizada nos últimos 100 anos, mas também, uma vez expostos, como respondemos a ela individualmente e como populações...Também espero que avancemos na percepção mais ecológica do nossa presença na terra. A visão antropocêntrica tem que cair para nos percebermos como parte de uma totalidade onde modificamos e somos modificados (inclusive em prazos curtos, por populações de vírus, bactérias, parasitas, insetos transmissores, fontes de alimento, química industrial, e a cultura...).. .absMaria Inês
- Concordando em colar seu comentário disse que certamente a lista é bem maior.
- Eu tentei expandir a lista: Na relação de agentes causais esquecidos ou pouco valorizados faltaram ainda: radiações ionizantes, ondas eletromagnéticas solares, poeira cósmica (até contendo vírus, bactérias e fragmentos semelhantes a DNA), radiofrequência, micro-ondas, ecos do big-bang, força da gravidade, memórias traumáticas, "força" da evolução, determinação de componentes desconhecidos do genoma (só conhecemos para que serve uma pequena proporção do que carregamos), etc..
- E quando agente fala em agente causal, em geral estamos juntando uma conotação mórbida, nociva ou indesejável. Entretanto pode-se cogitar de que esta conotação é relativa. E preciso pensar que eventos aparentemente desfavoráveis para uns ou contemplados sob determinada perspectiva, podem ser exatamente o oposto para outros ou mudando o ponto de vista no tempo e no espaço.
A própria morte deve ser vista como oportunidade de renovação e abertura de espaço vital. Na escala evolutiva o desaparecimento de alguns ou de alguma espécie, pode significar oportunidade para outras. - Comentário do Dr. Luis Nasi
Gostei da frase " Desconfiava que tudo estivesse integrado, muito além do sistema cardiovascular, mas ninguém sabia dizer como, com muita convicção"
Talvez tenhamos progredido na convicção (aumentado conhecimento) mas certamente perdemos na integração.Médicos do passado como o Pellanda conseguiam isto (foi professor de farmacologia e de obstetrícia)Impossível nos tempos de hoje integrar especialidades, considerando que não se formam mais internistas.AbNasi
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Wednesday, August 06, 2014
Faculdade de Medicina da URGS, reminiscências (em Médicos (Pr)escrevem)
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