Revista Mix, página Memória, 26 e
27/9/2020
Imagem: 1.200 dpi,
Crédito da imagem:
Arquivo
Bortholo Achutti
Legenda da imagem:
12 de
outubro No registro de Bortholo Achutti, em plena Revolução de Trinta,
destacam-se Getúlio Vargas, o intendente municipal Manoel Ribas e o tenente-coronel
Góes Monteiro, chefe militar da insurreição
Getúlio Vargas em Santa Maria - Revolução de 1930
Vê-se na frente, à esquerda, o
líder político da Revolução de 1930, Getúlio Vargas, ao passar por Santa Maria,
no dia 12 de outubro desse ano. Levava no pescoço a manta com a bandeira do Rio
Grande, que uma moça lhe ofertara, horas antes, em Rio Pardo. Era para ele ostentar
esse símbolo até o campo de batalha. Ao centro, o intendente Manoel Ribas, um
dos mais destacados articuladores da Revolução nesta cidade. (Encontra-se sua
casa na Avenida Rio Branco n.º 303.). À direita, com gorro e túnica, o
tenente-coronel Góes Monteiro, chefe militar das forças rebeldes.
O santa-mariense Bortholo Achutti foi mobilizado
para a Revolução, mas não chegou a viajar. Ele registrou, na gare e entornos, cenas
desse movimento conspiratório. As doze fotografias, nunca publicadas, estão com
seu filho, Dr. Aloyzio Achutti, em Porto Alegre, o qual me enviou as imagens. Selecionei
essa para a página Memória.
Em
Santa Maria, ante os rumores da Revolução, 23 senhoras caminharam, no dia 5 de
setembro de 1930, até a capela do Seminário São José, para rogar a
proteção da cidade à N.ª Sr.ª Medianeira. Nove dias depois, um grupo de fiéis foi
em procissão, conduzida pelo Monsenhor Luiz Scortegagna, da Catedral ao referido
Seminário. Foram pedir o amparo da Medianeira. Iniciava-se assim a devoção da
Medianeira em Santa Maria, diretamente ligada, portanto, à Revolução de 30.
O movimento eclodiu em Porto Alegre, às
17 horas e meia de 3 de outubro de 1930. Com a rápida tomada do QG da 3.ª
Região, próximo à Igreja das Dores, além do controle de outras unidades
militares, a capital ficou nas mãos dos conspiradores. Em seguida, a Revolução espalhou-se
por Minas Gerais, Paraíba, Ceará, Pernambuco, Pará, Paraná e outros estados.
Para
o sucesso do levante, era vital a adesão de Santa Maria, polo militar e
ferroviário estratégico para o transporte das forças rumo a São Paulo e ao Rio
de Janeiro, capital da República. Logo após as 17 horas de 3 de outubro, quando
iniciava a Revolução em Porto Alegre, o general Fernando de Medeiros, comandante
da 5.ª Brigada de Infantaria, aqui sediada, estaciona o carro defronte à
Sociedade União dos Caixeiros Viajantes (SUCV). Vai a pé ao Telégrafo Nacional,
ali próximo. Ao entrar na agência, militares conspiradores o prendem e o
conduzem ao Quartel da Brigada.
O tenente-coronel Aníbal Barão, da
Brigada Militar, assume o comando revolucionário local, ocupa repartições
federais e determina a prisão de alguns civis e militares. Antes da meia noite,
o 7º Regimento de Infantaria aderia à Revolução; o mesmo ocorre com o 5.º
Regimento, às 9 horas da manhã seguinte. A Banda do 7.º RI desfila, então, até
a praça central, onde o povo comemorava o engajamento militar da cidade à causa
rebelde.
Durante a sangrenta Revolução, uma central
de informações diárias funcionava no Centro Libertador, instalado na Praça
Saldanha Marinho. As Sociedades 3 de Outubro e João Pessoa, presididas por Annita
Barão e Anna Niederauer Jobim, prestaram socorro, nesta cidade, aos feridos nos
combates.
À meia-noite de 11 de outubro, parte de
Porto Alegre o trem de Getúlio Vargas e comitiva, rumo ao Paraná. Sobre os
motivos que o levaram a essa aventura, ele escreveu no seu diário: “Desejo
fazê-lo porque este é o meu dever, decidido a não regressar vivo ao Rio Grande,
se não for vencedor”.
A viagem foi um triunfo. Em cada parada, o
povo aclamava Getúlio como a um herói. Dos 11 vagões do trem, no primeiro, engatado
ao carro-restaurante das autoridades, iam Getúlio, o filho Lutero, o cunhado
Walder Sarmanho, o oficial de gabinete Luiz Vergara e o ajudante de ordens
Aristides Krauser. O segundo vagão era o de Góes Monteiro e do seu Estado-Maior.
Os carros seguintes, precedentes aos da soldadesca, conduziam a “escolta
presidencial”, formada por civis e militares. Além de políticos, havia jornalistas
e intelectuais, como Vianna Moog e o poeta Vargas Netto, sobrinho de Getúlio e
cronista oficial da viagem.
À tardinha de 12 de outubro, o comboio
chega a Santa Maria. Parecia que toda a cidade viera saudar a figura central da
Revolução e seus companheiros. O povo exigiu a presença de Getúlio no centro da
cidade. Na sacada da esquina do segundo pavimento do prédio do SUCV, Getúlio
Vargas e Flores da Cunha discursaram ao povo. Devido ao congestionamento das
linhas, só na manhã seguinte, às 5 horas, segue Getúlio Vargas para a Serra.
Para lutarem na Revolução, imenso era o
entusiasmo dos voluntários. Os lugares nos trens, disputadíssimos. Transcrevo um
episódio vivido em Santa Maria e narrado por Vargas Netto:
“Ninguém queria ficar!
Um gaúcho velho, que morava com seu único
filho, sem mais ninguém de parentes, seguiu com ele na primeira força que
embarcou para o Paraná, deixando, nos arredores da cidade, o seu rancho
abandonado, com essa frase escrita na porta: Este rancho pertence ao Rio
Grande!”
No dia 17 de outubro, o trem de Getúlio
estanca em Ponta Grossa (PR). Permaneceria à espera do combate em Itararé (SP),
entre 6.200 legalistas e 7.800
insurgentes. A batalha, prevista para 25 de outubro, não ocorreu, pois, na
véspera, uma Junta Governativa Provisória depôs e exilou o presidente
Washington Luís, a 22 de dias de expirar o mandato. O presidente eleito, Júlio
Prestes, não foi empossado.
Na
manhã de 31 de outubro, Vargas chega vitorioso ao Rio de Janeiro. A Junta Provisória
passa-lhe o governo em 3 de novembro de 1930. Por 15 anos, ele comandaria o país,
modernizando-o em vários aspectos e sepultando a Primeira República
(1889-1930).
Nota: Sugiro
a fixação de uma placa comemorativa na sacada do prédio da SUCV, onde, há 90
anos, Vargas discursou, rumo à vitória da Revolução.
No comments:
Post a Comment