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Tuesday, July 15, 2008

Policiais, juízes e médicos...

15 de julho de 2008 N° 15663
Artigo meu publicado no jornal ZH de hoje, seguido de comentário da Dra. Maria Inês.
Policiais, juízes e médicos...,

por Aloyzio Achutti*

Ultimamente tem sido possível apreciar a conhecida diferença de postura entre policiais e juízes no exercício de suas profissões: até prova em contrário, o suspeito pode ser culpado ou inocente dependendo de quem o considere.
Doença, freqüentemente, se associa com culpa e castigo, muito embora nem sempre o acometido tenha responsabilidade pelo infortúnio. Nas instâncias de saúde e doença, não existem duas profissões com distintos enfoques. O mesmo médico precisa dosar sua atitude frente a cada caso, agindo como policial ao buscar as provas para ajuizar o diagnóstico e tomar a melhor decisão de tratamento de acordo com seu paciente.
Médicos de serviços de emergência e unidades de tratamento intensivo, pela experiência de lidarem com casos predominantemente graves, tendem a agir como policiais. Já os sanitaristas, pediatras e obstetras costumam ter uma experiência que os inclina para a preservação da saúde, até prova em contrário.Enquanto a medicina se ocupava só de doenças avançadas, não importava que a atitude fosse de policial, mas na medida em que nos preocupamos com prevenção, e agora com promoção da saúde, cada vez mais se faz necessária uma atitude de juiz para evitar que se tratem como doentes as pessoas sadias.
Como todos os remédios são venenos em potencial e se justificam pelo princípio do mal menor, é fundamental um juízo clínico acertado, mais ainda quando se procura agir antecipadamente - com pessoas normais - na presunção de um mal futuro.Hoje está de volta a investida de usar estatinas (medicamentos usados para reduzir o colesterol) em crianças sem nenhuma evidência de doença, e a discussão fica parecida com a que se estabelece entre policiais e juízes.
Não se ignora que a atitude tanto de uns quanto de outros possa sofrer influências políticas e ideológicas. Da mesma forma em medicina, para aumentar a confusão, existem os lobbies da indústria e dos interesses empresariais, que terminam pesando na balança das decisões, por mais isento que o profissional tente ser.
A isenção científica provendo por evidências seria a salvação, mas hoje grande parte da pesquisa médica está sendo financiada, inclusive nas universidades, pela "filantropia" industrial...
Quem sabe, para conseguir o contrabalanço, tenhamos que cindir também os profissionais da saúde em duas categorias, como entre policiais e juízes?
*Médico
Comentário da Dra. Maria Inês Reinert Azambuja (miazambuja@terra.com.br):
Bem provocante (o artigo)... Acho que o início de tudo foi a Medicina Preventiva de Leavell e Clark. Os médicos embarcaram, eu diria até que alguns com bastante resistência, no canto da sereia que prometia a ampliação do mercado de trabalho dos doentes para toda a população. Mas quanto menos doentes os pacientes, menos qualificação é requerida, abrindo-se a possibilidade de formar-se facilmente mais médicos, com cada vez menos qualidade e portanto sem crítica, mais dependentes de normas técnicas e presa fácil dos interesses economicos do complexo médico-industrial. Como na indústria metalmecânica, a nova etapa é substituir trabalho humano por robôs, no caso, a internet, o google, e a venda direta ao consumidor. Para que intermediários? Mas e dá para reverter isto? Eu acho que os médicos deveriam voltar a focar sua atenção nos doentes e na medicina laboratorial/experimental. Com enfase na individualização dos casos. Só não sei se isto é possível.
Maria Inês

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