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Wednesday, January 28, 2009

Dinheiro bom...

28 de janeiro de 2009 |Jornal Zero Hora N° 15862
ARTIGOS
Dinheiro bom...,
por Aloyzio Achutti *
Há uma expressão popular que diz: Não se coloca dinheiro bom em cima de coisa ruim.

Entendidos no assunto têm, repetidas vezes, afirmado que a tão falada, e sentida, crise econômica tem sua origem em defeitos na aplicação do sistema econômico. Há quem considere até como autodefesa do capitalismo contra os abusos que vêm sendo tolerados e acobertados – particularmente onde o volume de dinheiro rola mais livre.

Problemas estruturais e de macropolítica são evidentes, basta lembrar a enorme e progressiva desigualdade socioeconômica espalhada pelo mundo, degradação do meio ambiente (chegando a ameaçar o clima global e a vida), a necessidade de inventar guerras para incrementar a indústria de material bélico para destruir e depois reconstruir, sem falar no pretexto de invasões para controlar insumos estratégicos...

Se perguntarem por que um médico mete sua colher torta em assunto que não é de sua especialidade, eu diria que além de sentir no bolso, e na consciência de cidadão do mundo, também a prática da medicina está contaminada, e favorece associar os feitos da economia com situações semelhantes de nossa experiência.

O decantado progresso da medicina tem se feito (principalmente a partir do modelo americano) através de investimentos em intervenções caríssimas e pouco eficientes, voltadas para pequeno número com doenças avançadas – atingindo hoje US$ 1 trilhão por ano nos EUA – e deixando 30 milhões sem cobertura.

Ninguém pode dizer que faltam médicos no Brasil. A falta de saúde não será resolvida injetando mais médicos onde faltam condições socioeconômicas para a população, acesso aos serviços e melhores condições de trabalho para os profissionais.

Ao modo da indústria bélica, a farmacêutica e de equipamentos também influem na percepção das necessidades e na definição das prioridades na pesquisa, na formação profissional e no serviço.

Recursos econômicos não faltam nos países onde a crise se desencadeou. Injetar mais dinheiro público é parecido com propiciar mais comida para quem já tem excesso de peso, ou sofre de complicações da obesidade (uma das causas mais importantes de doenças crônicas no mundo de hoje).

Há mais de 50 anos, o diretor da OMS já dissera que, se nenhum avanço tecnológico se fizesse, mas se melhorasse a distribuição dos cuidados básicos, com o que já se conhece, haveria mais saúde no mundo.

Da mesma forma, suspeito que se tanto dinheiro junto como nunca se viu (podendo chegar a US$ 3 trilhões) fosse empregado para a reforma do sistema, a busca de soluções energéticas renováveis e menos poluentes, teríamos mais chance de encontrar melhores saídas para a saúde global – incluindo a financeira – e para o equilíbrio macropolítico e do poder.

*MÉDICO

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