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Tuesday, December 22, 2009

Desenvolvimento e sustentabilidade


22 de dezembro de 2009 | N° 16194

ARTIGOS

Desenvolvimento e sustentabilidade, por Aloyzio Achutti *

De tanto uso, conceitos ficam desgastados, ainda mais depois da COP15 (Copenhague), mas é preciso continuar a discussão, elaborando, desvendando, buscando esclarecimentos, particularmente de alguns aspectos não tão óbvios e interesses ocultos.

Por desenvolvimento compreendemos um conjunto mínimo (desejado para todos e por todos) de condições alcançadas por um grupo de países, nos quais vive cerca de um quarto da população mundial. Nos outros países (três quartos da população mundial), considerados não desenvolvidos, existem bolsões de populações privilegiadas (como nós), vivendo também em tais condições.

Equidade está relacionada com a distribuição equitativa dessas características na população. Por sua vez, também nos países ditos desenvolvidos existe desigualdade, só que em menor proporção e não tão manifesta.

Como estamos todos atrelados e interdependentes, poder-se-ia comparar o mundo com uma grande cidade na qual existem bairros mais ricos (desenvolvidos) e mais pobres (os três quartos restantes).

Tudo fica mais complicado quando se fica sabendo que aquele quarto (desenvolvido) da população mundial já consome mais do que o mundo é capaz de repor, causa do efeito estufa, produção de CO2, e aquecimento global. Para manter este padrão, vendemos excedentes para os outros, utilizamos recursos naturais e humanos não renováveis (inclusive dos outros), promovemos ou contribuímos para a poluição ambiental, desmatamento, e alimentando estresse crônico (da mesma forma como acontece em nível de nossas cidades).

Equidade: será promover que os outros três quartos da humanidade se igualem ao quarto que já esgotou os recursos existentes? Onde vamos conseguir mais? Quem vai pagar a conta? A tentativa safada que causou a recente crise econômica mundial é a maior evidência de que nestas coisas não podemos nos iludir, nem iludir muita gente por muito tempo.

Aqui entra o conceito da sustentabilidade. Se já é inviável manter as coisas como estão, pior será aumentar o saldo negativo com mais consumidores. Daí dá para entender um dos motivos pelos quais tem gente que não quer discutir o assunto e protela qualquer compromisso ou decisão. Como este mundo está, só se sustenta com o emprego da força bruta, com a manutenção do “apartheid”, das muralhas que de Berlim foram transportadas para a fronteira do México com os Estados Unidos, de Israel com a Palestina, das tarifas alfandegárias Norte/Sul, das barreiras e reservas de mercado de informação e tecnologia etc.

Os insumos baratos, a mão de obra mal paga, a produção de drogas “ilícitas” são a contrapartida dos três quartos da humanidade, para trocar pelos excedentes de bens e fantasias produzidos pelo quarto desenvolvido. Enquanto houver desperdício e consumo de drogas entre os desenvolvidos, não vai adiantar muito destruir plantações, invadir para controlar a produção, ou contribuir para deixar morrer à míngua os inconvenientes, ou matar insurgentes em nome de revanche ou da prevenção de violências futuras.

A violência, sim, é evidentemente autossustentada e progressiva. O equilíbrio, por enquanto, se mantém à custa do poder dos desenvolvidos. Desenvolvimento e equidade: será preciso reaprender, testando em nossos modelos urbanos para depois tentar estendê-lo para todo o mundo.
* MÉDICO

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