04 de agosto de 2010 | N° 16417
ARTIGOS
A partir do coração..., por Aloyzio Achutti*
Desde sempre o homem deve ter percebido que quando se agita, se emociona, ama, odeia, se entusiasma, tem medo, se prepara para agredir ou fugir, algo se mexe e pulsa dentro do peito. É o coração que bate mais forte, mas rápido e às vezes até descompassado. Ficamos também pálidos ou rubicundos, nossas extremidades podem ficar frias, úmidas, os pelos se eriçam, e outros sintomas podem surgir em circunstâncias de estresse, a evidenciar fenômeno muito mais extenso, envolvendo todo nosso organismo.
Por essas e outras, o coração foi considerado como a sede da vida, da alma e das paixões. Males do coração são reconhecidos com uma das causas mais frequentes de morte precoce e sofrimento em todo o mundo. Nós, cardiologistas, aprendemos a lidar com estes problemas e temos incessantemente procurado identificar o que nos adoece, como tratar e como prevenir.
Logo ficou evidente que os problemas não se restringem à bomba pulsante central, e que todo o sistema circulatório fica comprometido, levando a pensar num processo degenerativo, como se por desgaste. Mas por que uns apresentam problemas mais precocemente que outros? Encontramos os fatores de risco: tabagismo, sedentarismo, história familiar (genética), alterações que podem ser medidas como pressão arterial, glicemia, gorduras no sangue, e também estresse (difícil de medir). Buscamos alterações metabólicas, muitas ligadas à nutrição, infecções, inflamações, exposição a fatores do meio ambiente físico-químico.
Tudo tem sido exaustivamente pesquisado, principalmente quando aparece a chance de se fabricar algum antídoto ou explorar alguma técnica capaz de se contrapor ao que está errado. Mas sempre sobram dúvidas, surgem novos questionamentos, e muitos casos ficam sem explicação.
Não faz muito passamos a olhar não somente o coração do indivíduo enfermo, mas a população, incluindo-se aqueles que ainda não estão evidentemente doentes. Descobrimos estarem doenças cardiovasculares precoces diminuindo em países mais desenvolvidos, enquanto sobem nos demais. Populações mais pobres, com menor índice de desenvolvimento humano, e mesmo gente financeiramente melhor, mas com menor privilégio social, sofrem mais. Estaríamos enfrentando somente problemas de pobreza, educação e hierarquia?
Cada vez mais fica evidente estarem na base de tudo, os fatores estressantes que mexem com o coração. A partir do coração, terminamos descobrindo o coração partido (já identificado como síndrome específica, mas cujo conceito pode ser ampliado). O que mexe com o coração, através de nossa consciência, e das vias nervosas, liberando mediadores químicos internos, influi em todo o metabolismo e também determina nosso comportamento de risco. Baixa estima, sensação de menos valia, de abandono, competitividade exacerbada, frustrações, ressentimento, rancor, ódio, violência vivida, assistida ou imaginária, medo, insegurança, tudo o que sobra na organização de nossas sociedades urbanas, passa também pelas mesmas vias nervosas que passam as drogas e mexem também com o coração. O mal e os remédios, portanto, não vêm somente de fora, estão dentro de nós mesmos, e de como nos relacionamos uns com os outros.
* MÉDICOPor essas e outras, o coração foi considerado como a sede da vida, da alma e das paixões. Males do coração são reconhecidos com uma das causas mais frequentes de morte precoce e sofrimento em todo o mundo. Nós, cardiologistas, aprendemos a lidar com estes problemas e temos incessantemente procurado identificar o que nos adoece, como tratar e como prevenir.
Logo ficou evidente que os problemas não se restringem à bomba pulsante central, e que todo o sistema circulatório fica comprometido, levando a pensar num processo degenerativo, como se por desgaste. Mas por que uns apresentam problemas mais precocemente que outros? Encontramos os fatores de risco: tabagismo, sedentarismo, história familiar (genética), alterações que podem ser medidas como pressão arterial, glicemia, gorduras no sangue, e também estresse (difícil de medir). Buscamos alterações metabólicas, muitas ligadas à nutrição, infecções, inflamações, exposição a fatores do meio ambiente físico-químico.
Tudo tem sido exaustivamente pesquisado, principalmente quando aparece a chance de se fabricar algum antídoto ou explorar alguma técnica capaz de se contrapor ao que está errado. Mas sempre sobram dúvidas, surgem novos questionamentos, e muitos casos ficam sem explicação.
Não faz muito passamos a olhar não somente o coração do indivíduo enfermo, mas a população, incluindo-se aqueles que ainda não estão evidentemente doentes. Descobrimos estarem doenças cardiovasculares precoces diminuindo em países mais desenvolvidos, enquanto sobem nos demais. Populações mais pobres, com menor índice de desenvolvimento humano, e mesmo gente financeiramente melhor, mas com menor privilégio social, sofrem mais. Estaríamos enfrentando somente problemas de pobreza, educação e hierarquia?
Cada vez mais fica evidente estarem na base de tudo, os fatores estressantes que mexem com o coração. A partir do coração, terminamos descobrindo o coração partido (já identificado como síndrome específica, mas cujo conceito pode ser ampliado). O que mexe com o coração, através de nossa consciência, e das vias nervosas, liberando mediadores químicos internos, influi em todo o metabolismo e também determina nosso comportamento de risco. Baixa estima, sensação de menos valia, de abandono, competitividade exacerbada, frustrações, ressentimento, rancor, ódio, violência vivida, assistida ou imaginária, medo, insegurança, tudo o que sobra na organização de nossas sociedades urbanas, passa também pelas mesmas vias nervosas que passam as drogas e mexem também com o coração. O mal e os remédios, portanto, não vêm somente de fora, estão dentro de nós mesmos, e de como nos relacionamos uns com os outros.
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