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Luís Beck da Silva Neto, Nadine Clausell
(MEMBROS DA LISTA AMICOR)
Até meados de 1950, acreditava-se que a diurese era controlada por dois mecanismos neuro-hormonais: o sistema vasopressina (ADH) e o sistema renina-angiotensina-aldosterona (SRAA). No entanto, ainda em relatos daquela década, acreditavase existir um terceiro fator, o qual era pouco elucidado. Com adescrição de aumento de diurese associado a episódios paroxísticos de taquicardia supraventricular, passou-se a suspeitar que o terceiro fator estivesse ligado ao coração. Seguiu-se a clássica descrição do reflexo de Henry & Gauer, em que a dilatação atrial era capaz de
aumentar a diurese.1,2 Posteriormente, com o advento da microscopia eletrônica, foi possível visualizar a presença de grânulos intracelulares
nos miócitos atriais, em grande semelhança aos encontrados nas células endócrinas. A noção de que o coração possuía funções endócrinas ganhava fundamentação.3 A confirmação definitiva da ligação endócrina entre o coração e os rins foi definitivamente confirmada pelo clássico experimento de Bold e colaboradores, publicado em 1981.4 Neste experimento, extrato de músculo atrial foi injetado em ratos e observou-se rápido e potente efeito diurético e vasodilatador. Estava descoberto o fator natriurético atrial (ANF), um peptídeo circulante com propriedades natriuréticas, diuréticas e
vasodilatadoras, posteriormente chamado peptídeo natriurético atrial (ANP). Desde então, um imenso número de investigações multidisciplinares foi conduzido para esclarecer o real papel deste peptídeo na patogênese das doenças cardiovasculares, na regulação da pressão arterial e na excreção de sal e água. Em 1988, um grupo de pesquisadores japoneses demonstrou a existência de um peptídeo natriurético tipo-ANF em cérebro de porcos e o nomeou brain natriuretic peptide (BNP).5 Inúmeros experimentos subseqüentes demonstraram que o BNP era, de fato, produzido em miócitos cardíacos e que compartilhava receptores periféricos com o ANP. Hoje, o BNP (renomeado peptídeo natriurético tipo-B) tem alcançado importante papel na prática clínica cardiológica e seu uso clínico é brevemente revisado neste trabalho. Essas investigações se tornaram um excelente exemplo de pesquisa que evoluiu da bancada do laboratório à beira do leito do paciente.
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