ARTIGOS
Terrorismo, por Aloyzio Achutti *
Nova estratégia de mercado? Pelo visto, o terrorismo é muito eficiente e, parece estar substituindo a propaganda ingênua, através da qual apenas se alardeavam os aspectos positivos do produto, ou de idéias à venda.
É possível que estejamos apreciando uma peculiaridade da natureza humana ou de nossa cultura catastrófica. O fato é que prestamos muito mais atenção ao desastre e nos emocionamos muito mais com o crime do que com a paz e com a virtude, e há sempre alguém ganhando com esta estratégia.
A violência e a corrupção dão mais Ibope. A suspeita da existência de armas de destruição em massa, e de potenciais novos atentados, mobilizaram todo o mundo, passaram a justificar desrespeito a direitos humanos, invasões, guerras, e enormes desvios de recursos públicos para sustentar ações que não teriam o mesmo respaldo político se dirigidas para causas altruísticas. Certamente há quem esteja lucrando com tudo isso, e até há quem acredite no desencadeamento perverso e intencional do desastre, para depois ganhar com a reconstrução.
Agora é a vez do terrorismo financeiro que justifica intervenções antes jamais pensadas, usando o caos para o assalto a reservas, em benefício de uns poucos.
Na linguagem médica falamos muito mais em doenças e morte do que em saúde e vida. A prevenção de doenças antecede com mais sucesso a promoção da saúde. O próprio discurso preventivista está cheio de alarmes e restrições cuja generalização pode ser altamente contestável. O medo da morte e do sofrimento tem levado mais gente aos consultórios para checar sua saúde, tomar remédios e mudar hábitos de vida, do que em busca da saúde e da felicidade. A indústria sabe disso e tira partido.
A dificuldade em delimitar fronteiras entre saúde, risco e doença, torna mais difícil estabelecer um saudável equilíbrio, facilitando a tentação de errar por excesso, antecipando o sofrimento e exagerando o temor infundado, seguimos a tendência de uma sociedade que já se acostumou com o clima de terror.
É bem possível que devêssemos investir mais em nossos currículos com o reconhecimento das variações da normalidade, da biodiversidade, das diferenças naturais étnicas, de gênero, e das etapas do desenvolvimento humano. A tradição de começar o estudo da anatomia pelo cadáver, e de concentrar o treinamento na beira do leito, confinado atrás dos muros dos hospitais, favorece a visão de que quase todo o mundo tem alguma espécie de doença, ou alto risco de adoecer, e necessita tomar algum tipo de remédio.
O terrorismo como forma de agressão gratuita ou como estratégia de mercado, não passa de mais um sintoma de doença social. Embora mergulhados nesta sociedade, seria altamente desejável que ao tentar protegê-la, nos médicos pudéssemos permanecer isentos e equilibrados, e minimizar mais este sofrimento.
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