20 de junho de 2010 | N° 16372
ARTIGOS
“Engana-me...”, por Aloyzio Achutti*
“Engana-me que eu gosto...” Ditos populares podem lidar com importantes questões. Estamos mergulhados em mensagens enganosas ou de meias verdades na propaganda comercial, no discurso político, na fé religiosa, nas juras de amor, em muitos prazeres fugazes, na embriaguez da voracidade, em nossos sonhos, e até nas tais evidências científicas.
O disfarce, o drible, a artimanha, a estratégia, o esconde-esconde, a surpresa, fazem parte do jogo, e a vida precisa nos ensinar o que convém e o que deve ser evitado. Precisamos nos conformar: a dúvida, a incerteza e a dificuldade de reconhecer o falso e o verdadeiro são desafios permanentes. A filosofia e a religião desde sempre tentaram encontrar saídas, e a ciência surgiu para minimizar as dúvidas, mas a expansão do conhecimento traz mais novas perguntas do que respostas definitivas...
A segunda parte da expressão é ao menos curiosa: gostar de ser enganado?!... Pela frequência e liberdade com que os limites do razoável são ultrapassados, é realmente muito provável ser a responsabilidade não somente do enganador, mas haver algum gozo ou vantagem em ser enganado. Existe gente ingênua que facilmente cai no “conto do vigário”, mas não existe tamanha ignorância assim no mundo para se subestimar tanto a audiência.
Frente às dificuldades, a fuga da realidade é uma saída bem conhecida: drogar-se, dormir, negar, iludir-se, fazer de conta para não enfrentar o sofrimento ou ter que tomar uma decisão de risco. E não é uma raridade. Quantos jogam dinheiro fora em vários tipos de jogos e sorteios com quase nenhuma chance, a não ser a da banca? Fanatismo político, paixão pelo time, fidelidade à marca, fazem-nos cegos porque preferimos jogar no que gostaríamos que fosse verdade.
A virtualidade da literatura, das artes e da mídia fornece-nos recursos eficazes para criar e viver numa realidade paralela. A companhia – principalmente se for de muitos, em massa – pode nos liberar de tomar uma decisão pessoal, e nos deixarmos levar...
Seres racionais: não somos tão racionais assim. Há caminhos alternativos em nossa mente, assim como aquele da dependência química ou psicológica, se alguma vez deu certo ou trouxe algum tipo de prazer. A informação é essencial, mas pode ser mal conduzida por um conluio tácito entre a esperteza de quem veicula a mensagem e a lucidez de quem a recebe. A boa educação pode estruturar a personalidade, tornando-a menos suscetível, mas o equilíbrio emocional é crítico na escolha da opção mais acertada em vez da efêmera e enganosa ilusão.
*MÉDICOO disfarce, o drible, a artimanha, a estratégia, o esconde-esconde, a surpresa, fazem parte do jogo, e a vida precisa nos ensinar o que convém e o que deve ser evitado. Precisamos nos conformar: a dúvida, a incerteza e a dificuldade de reconhecer o falso e o verdadeiro são desafios permanentes. A filosofia e a religião desde sempre tentaram encontrar saídas, e a ciência surgiu para minimizar as dúvidas, mas a expansão do conhecimento traz mais novas perguntas do que respostas definitivas...
A segunda parte da expressão é ao menos curiosa: gostar de ser enganado?!... Pela frequência e liberdade com que os limites do razoável são ultrapassados, é realmente muito provável ser a responsabilidade não somente do enganador, mas haver algum gozo ou vantagem em ser enganado. Existe gente ingênua que facilmente cai no “conto do vigário”, mas não existe tamanha ignorância assim no mundo para se subestimar tanto a audiência.
Frente às dificuldades, a fuga da realidade é uma saída bem conhecida: drogar-se, dormir, negar, iludir-se, fazer de conta para não enfrentar o sofrimento ou ter que tomar uma decisão de risco. E não é uma raridade. Quantos jogam dinheiro fora em vários tipos de jogos e sorteios com quase nenhuma chance, a não ser a da banca? Fanatismo político, paixão pelo time, fidelidade à marca, fazem-nos cegos porque preferimos jogar no que gostaríamos que fosse verdade.
A virtualidade da literatura, das artes e da mídia fornece-nos recursos eficazes para criar e viver numa realidade paralela. A companhia – principalmente se for de muitos, em massa – pode nos liberar de tomar uma decisão pessoal, e nos deixarmos levar...
Seres racionais: não somos tão racionais assim. Há caminhos alternativos em nossa mente, assim como aquele da dependência química ou psicológica, se alguma vez deu certo ou trouxe algum tipo de prazer. A informação é essencial, mas pode ser mal conduzida por um conluio tácito entre a esperteza de quem veicula a mensagem e a lucidez de quem a recebe. A boa educação pode estruturar a personalidade, tornando-a menos suscetível, mas o equilíbrio emocional é crítico na escolha da opção mais acertada em vez da efêmera e enganosa ilusão.
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