Mais sobre o Ernesto publicado anteriormente:
http://amicorextension.blogspot.com/2013/02/ernest-greiner-07051917-17021987.html
MARANATHA
A Lenda de uma Flor.
Ernest Greiner.
“Reza antiga lenda que, aos homens expulsos do Paraíso, entregou
Deus uma flor, para que, em terra alheia, recordassem sua Pátria”.
“Esta flor, diz ainda a lenda, é o anseio de felicidade...”
O homem associa sempre a felicidade à Pátria, ao berço, à
infância... Ela é a nascente cristalina, a doçura do olhar... É a firmeza no
andar, som familiar de cantiga materna, solenidade de domingo... Aconchego dos
primeiros hábitos, refúgio do coração assustado... É a encarnação do espírito
que vagueia pelos espaços...
Ter Pátria é ser criança.
Mas o homem é designado a ser adulto. Há de trocar o berço pela
estrada. O pai deixa de ser a rocha inquebrantável. Descobrem-se lacunas na
sabedoria da mãe. A fortaleza do lar passa a mostrar rachaduras. As fronteiras
de cada ser aparecem com crescente nitidez no mapa de nossa juventude. Somos
expulsos do paraíso das alianças absolutas: “minha Mãe é a única... Minha
Terra... Minhas raízes, meu calor e meu lar... Minha gente”.
Chega o dia em que a
madrugada amiga estremece. Aconchegos são sacudidos pela consciência de
distâncias. Confianças são abaladas pela descoberta dolorosa da relatividade.
Agita-se, então, o homem nos preparativos da
viagem. E seguem-se os adeuses dolorosos, mas necessários. Porque o adulto não
tem direito de fixar sua morada na infância. Deve crescer, sofrendo as
amarguras da limitação que lhe inspira o medo. Das distâncias que o mergulham
na solidão...
Com a lâmpada da ansiedade acesa, parte em
busca de novas terras para a sua inteligência... De novas residências para o
seu amor, de novos desafios para seu espírito combativo. Seja-lhe o berço
preciosa recordação. O risco da estrada é a sua vida.
O homem fixado teme a saída de si. Desconfia
de tudo. Evita os encontros. Odeia os outros. Julga inválido tudo o que não
traga a marca do seu coração acorrentado.
Para ser adulto é preciso ser estrangeiro
dentro do mundo. A criança só acredita no seu mundo. O estrangeiro reconhece o
outro como o outro. Sua inteligência não é presunçosa. Seu coração está à
escuta... Sua sensibilidade se comove com a beleza inédita de novas
paisagens...
O estrangeiro é o homem autêntico. Ele não
desconhece a verdadeira fraternidade porque nele o partir e o chegar se saúdam.
É preciso que a flor da ansiedade, que
trazemos do paraíso perdido, não murche. Percorrer com ela a caminhada do
nascedouro até o oceano é entender o verdadeiro sentido das coisas: os berços e
as pátrias deixam de ser prisões ou refúgios. As estradas não são mais rastros
falazes que se perdem nas areias infindas do cansaço. Os outros passam a ser
moradas para os nossos corações.
MARANATHA – o que o homem ama na recordação e
o que ele vive no sonho... O que anima suas andanças e o que não o deixa
perder-se na estrada!
MARANATHA – o que conduz o homem de longo
percurso!
No comments:
Post a Comment