RISCO E LIMITE
Aloyzio Achutti. Médico.
(publicado no Jornal Zero Hora, no dia 20/07/2007)
Prevenir significa evitar danos, antecipando-se ao desastre. O conceito de risco e o conhecimento de sua presença são fundamentais para poder prevenir e chegar antes que o mal aconteça. A sabedoria popular já nos ensina: “é preferível prevenir que remediar”, “antes que o mal cresça, corte-se-lhe a cabeça”, porém não basta o conhecimento. Uma atitude favorável é necessária, e mais do que isso, uma cultura de proteção aos bens e valores fundamentais.
Dizem que nossa cultura é da catástrofe, que só nos movemos depois que um grande mal acontece, e não nos choca mais o comportamento paradoxal de massa, atraída para a contemplação e a comunicação do desastre e da violência, esperando pelo herói do último minuto...
Tudo pode estar relacionado com o desejo de onipotência, com o impulso de ignorar limites, a voracidade de acumular, e o mito da eternidade. As conquistas e o desenvolvimento da ciência contribuem para estimular estas fantasias, reforçadas pela propaganda, corrupção política, e interesses de mercado.
Estamos vivendo momentos de competição desportiva, onde bater recordes é a meta, distorcendo o valor do exercício físico para a saúde. Se a atividade física faz bem, ninguém provou até hoje que seu extremo traga benefícios, a não ser para os interessados na mobilização de multidões e nos negócios daí resultantes.
O limite está geralmente associado a risco e deve ser abordado com muita cautela, somente quando necessário, e com redobrada segurança. Entretanto nossa cultura foi construída cultuando o mais alto, o mais rico, o mais poderoso, o mais veloz, o mais violento, o som mais forte, os esportes radicais e a droga mais excitante, o que é capaz de comer e beber mais, quem mais se arrisca.
A virtude está no meio porque o abuso do limite se encontra nos extremos, em geral por irresponsabilidade, loucura ou incompetência. Também operar no limite inferior ou abaixo dos custos, pagar mal pelo serviço, por clientelismo, por lucratividade, ou para desviar recursos, só pode aumentar o risco de acidentes ou de má prática e deteriorar a qualidade. Na saúde, ou em qualquer outro setor de serviço, no transporte, na indústria, no comércio e na agricultura, é preciso observar os limites e cuidar dos riscos, planejar e avaliar constantemente, investir em manutenção, suporte e infra-estrutura.
A lei é o estabelecimento de limites visando o bem comum. Uma cultura que não respeita os limites, ou que cultua a transgressão em busca de vantagens ou situações de estresse e de risco, favorece a criminalidade e a corrupção.
A final, tudo tem limites e tem riscos, até nossa existência e o meio ambiente no qual vivemos. Para preservá-los, para gozá-los por mais tempo, para não sofrer danos é preciso respeitar os limites e agir dentro de uma margem razoável de segurança. Os extremos são para uso excepcional e a consciência de limite deve-nos servir antes como alarme de alto risco e estímulo na busca de soluções e alternativas melhores, raramente como provocação a ser enfrentada.
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