Enviado para o Jornal ZH
HO, HO, HO!...
A risada do bom velhinho, representada por fonemas onomatopaicos (estranhos à nossa língua), faz parte dos símbolos de relacionamento social valorizados nesta época do ano, assim com a troca de mensagens, os augúrios, os presentes, os abraços, os brindes e os encontros de grupos familiares e de trabalho.
Em geral essas manifestações são vistas com um olhar crítico negativo, como sendo resultado de manipulações com interesse comercial. Não dá para negar da estratégia mercadológica, tirando proveito de uma característica natural, cujos aspectos positivos, no entanto, podem e precisam ser valorizados.
Os símbolos podem carregar muitos conteúdos: o menino Jesus recém-nascido na manjedoura, os pastores e os reis, o Papai Noel, representam fases do ciclo vital, do ano novo, do ano velho, provavelmente figuras masculinas para celebrar a descoberta dos outros, e não somente de nós mesmos, que facilmente nos confundimos com a imagem da mãe.
Seres humanos, assim com a maior parte dos animais, somos naturalmente gregários. A segregação, o isolamento e a solidão fazem mal para a saúde, aumentam o risco de adoecer e de morrer precocemente.
Já era bem conhecida a síndrome do coração partido. E quem já não experimentou ou não teve medo de ser rejeitado ou de ficar na solidão?
Pesquisa científica de revisão da literatura médica recente conclui que a influência do relacionamento social sobre a mortalidade é comparável a de outros fatores bem estabelecidos de risco.
Através deste estudo foi possível estimar em 50% o aumento de sobrevida para aqueles que tinham forte relacionamento social, independentemente de grupo etário, sexo, estado de saúde inicial, e tempo de observação. Diferença houve comparando as medidas mais complexas de integração social com as mais simples, binárias ou domésticas.
As famílias estão encolhendo, o contato entre as pessoas está ficando cada vez mais superficial, esporádico, e competitivo. Cada vez mais tem gente vivendo só.
Paradoxalmente, a mesma força agregadora que busca uma identidade no grupo familiar, no clube, na crença religiosa, na corporação, no partido político, na etnia, no bairro, é a mesma que segrega, traça fronteiras e define quem pode e quem não pode pertencer ao clã.
O sucesso dos grupos de relacionamento virtual na internet e na mobilização presencial de massa, com pretexto artístico ou outro qualquer, devem estar na mesma esteira, e satisfazer a mesma necessidade de testar e sentir que outros existem além de nós mesmos, que pensam parecido, com os quais podemos trocar afeto e festejar a descoberta com alegria.
O ideal seria construir um mundo sem barreiras de segregação, e poder dar e receber afeto todos os dias, constantemente, mas enquanto isto não se realiza, vale saber que temos também bons sentimentos, que estamos cercados por gente igual e capaz de nos corresponder, mesmo que seja apenas na expressão de um desejo. Faz bem para a saúde de quem dá e de quem recebe. Contrapõe-se à violência competitiva e segregadora.
Embora já saibamos que Papai Noel não existe, vale saudar o momento e a descoberta com um profundo, encorpado e caloroso Ho, Ho, Ho!...
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