Sumário do livro “Dramas, comédias e
tragédias nas Picadas de Bom Jardim/Ivoti” (no qual se encontram os respectivos
autores)
Apresentação – Roque Amadeu Kreutz
Prefácio 01 – Maria Stephanou
Prefácio 02 – Andréa Cristina
Baum Schneck
I. Situações cômicas (fatos reais)
01 - Personagens típicos e suas
travessuras – Walter Egon Mundstock
02 - Divertido
Baile de Kerb em Picada
Feijão – Depoimento
de Aloísio Benno Berviam – Texto de R. Amadeu Kreutz
03 - Varzeano 66 – Ademir
Rost
04 - Desfazendo um feitiço (Fato verídico, mas com
personagens fictícios) – Depoimento de A.
Benno e Lígia Rejane Bervian – Texto de R. Amadeu Kreutz
05 - Um
dia de heroína – Márcia Funke Dieter
06 - Um susto muito grande – Pronila Krug
07 - Uma
travessura bem bolada –
Roque Amadeu Kreutz
08 - Imigrantes japoneses de
Ivoti: Histórias – Alberto Menezes e
Reiko Goto Menezes
09 – O que me contaram... – Textos de Roque Amadeu Kreutz com base nos
depoimentos indicados
10 – O achado
terrificante do roceiro Arthur Feldmann – Introdução
de Roque Amadeu Kreutz
11 – Buraco do
Diabo – A lenda – Flávio Tietze
12 – A
assombração – Simone Saueressig
II – Situações dramáticas (fatos reais)
01 - Paixão descontrolada* – Pesquisa de Luís Alberto Friedrich - Texto
de Roque Amadeu Kreutz
02 - Um caso complicado na minha
infância – Heyde (Becker) Fritsch
03 - Lembrança inesquecível – Depoimento: Elly Maria (Schallemberger)
Müller – Registros e texto: Roque
Amadeu Kreutz
04 – Uma noite daquelas... – Carlos N. Machado Appel
III – Lembranças de personagens e fatos
históricos
01 - Memórias de um cirurgião
dentista –
Walter Egon Mundstock
02 - Relato informal de uma
pesquisa – Herta Sporket Patro –
Complementação: Roque Amadeu Kreutz
03 - Excursão científica ao Morro
da Vigia – (Texto adaptado por R. Amadeu
Kreutz do manuscrito original de Herta Sporket Patro)
04 - Fabricação artesanal de
carrocerias – Maria Neuli Robinson
05 - Pessoas muito estranhas... –
Ivoni Noé e Roque Amadeu Kreutz
06 - Lembrando fatos e situações
– Maria Neuli Robinson
07 – Criadora da minha história,
não apenas criatura...– Andréa Cristina
Baum Schneck
08 - Relembrando um funeral – Pronila Krug
09 – Picada Capivara daqueles tempos – Ivoni Noé
10 - Descendentes de escravos em Bom Jardim-Ivoti
– Heyde Fritsch - Colaboração: Herbert J.
Fritsch
11 - Militão na Picada Feijão – Lídia Bervian Barreto e irmãs
12 - Iniciando uma nova história
– Walter Egon Mundstock
13- Ivoti que eu conheci antes de
1966 – Hermedo Egidio Wagner
14 – São tempos que
a gente não esquece – Andréa Cristina Baum Schneck
15 – Revitalizando um artesanato
tradicional – Roque Amadeu Kreutz
16 – Meus objetos achados ou
emoções resgatadas – Ivete Mariane Johann
17 – No tempo da vovó – Roque Amadeu Kreutz, com base em depoimento
de Maria Iria Führ
18 – Bordado até pra cachorro – Andréa Cristina Baum Schneck
19 – O tropeiro alemão – Leani Veiga Koppe
IV – Situações e fatos históricos
documentados
02 - Fatos históricos registrados no diário de Edmund Grohmann – Elói
Edmundo Franz
03 – Amor e morte na Picada
Schneider – Leonardo Schneider
V – Entre a
ficção e a realidade
01 - Saga de uma família de
imigrantes – Roque Amadeu Kreutz
02 - O ferreiro
do Passo – Peça em três atos. Cenário único: Ferraria – Kurt Günther Hugo Schmeling
03 – O rapto da
namorado – Leani Veiga Koppe
Concluindo
Historiando 50 anos de Ivoti – Hermedo Egidio Wagner
Apresentação dos autores
Apresentando o artista plástico
Flávio Scholles – Andréa Cristina Baum
Schneck
Ivoti (Orelha da contracapa) – Leani
Veiga Koppe
Apresentação
dos autores
ACHUTTI, Aloyzio Cechella: (01/07/1934) Médico, natural de Santa Maria,
residindo em Porto Alegre desde 1953. Ex-professor da UFRGS e da PUCRS.
Consultor em várias oportunidades do Ministério da Saúde, Organização
Pan-Americana e Mundial da Saúde e Banco Mundial. Pesquisador de genealogia e
história das famílias Achutti, Cechella, Borin, Link, Adami, Böbien e Robinson,
Pisani, Lichtler (pela esposa – Dra. Valderês Robinson A)
APPEL, Carlos Newton Machado:
(12/01/1936), natural de Júlio de Castilhos. Em 1960, formou-se em medicina
pela UFRGS. Desde 1964, trabalha em Ivoti, continuando até hoje. Em sua
trajetória de médico particular e de servidor público federal, estadual ou
municipal, atuou em Júlio de Castilhos, Estância Velha, Morro Reuter, Lindolfo
Collor, Presidente Lucena e S. José do Hortêncio. Graças à sua abnegada
dedicação à saúde, foi agraciado com o título de Cidadão Honorário de Ivoti.
BARRETO, Lídia
Isolde Bervian: (10/10/1944),Técnica em Contabilidade e Enfermagem, natural de
Ivoti, onde reside. Exerceu atividades profissionais em São Leopoldo,Porto Alegre e em hospitais de Novo Hamburgo. Como
aposentada (1995), continuou na área da saúde, foi Conselheira Tutelar (4
gestões), Presidente da APAE (2003-2006), catequista (mais de 10 anos).
Atualmente é Coordenadora do Centro de Referência de Ivoti.
DIETER, Márcia Funke:
(19-01-1977): Natural de Santo Ângelo. Formada em Letras-Literatura
(Unisinos-RS). Especialização em Cultura e Literatura (Barão de Mauá-SP).
Professora na rede municipal de Ensino de Ivoti e em Curso de Pós-graduação na
Capacitar Centro Educacional . Autora de literatura infanto-juvenil e contadora
de histórias. Visite seu site: www.marciafunkedieter.com.br
FRANZ, Elói Edmundo: (11.01.1948,
Concórdia SC) – Casado com Vilma. Formado em Letras; pós-graduado em Folclore;
Professor de Português e Literatura; Regente do Coros, músico e compositor;
autor dos livros de genealogia "Só Deixa Marcas Quem Caminha" - da
família Franz; e "Família Grohmann", descendentes de Ignaz Grohmann e
Anna Münzberg. Auxiliou na tradução e edição da obra de Edmund Grohmann. Reside
em Ibirubá, RS.
FRIEDRICH, Luis Alberto (12/09/1947):
Técnico em Contabilidade – Pio XII de NH; Administração de empresas – Feevale;
líder estudantil na decada de 60; 1º secretário executivo da Câmara Municipal
de Ivoti na 2ª legislatura; Vereador na 3ª Legislatura, de 1972 a 1976; pesquisador de
genealogia e história das famílias Friedrich e Fröhlich. Coautor do livro “Bom
Jardim-Ivoti no palco da história”
FRITSCH, Heyde Becker
(26/06/1932): Formada como Técnica em Contabilidade e pesquisadora da história
de Ivoti. Aposentada pelo INSS. Residente em Ivoti desde o nascimento, em 1932.
Trabalhos comunitários na APAE e nas “Abelhinhas”, entre outros. Coautora do
livro “Bom Jardim-Ivoti no palco da história”
JOHANN, Ivete Mariane
(12/07/1965): Formada em Administração de Empresas pela FEEVALE, e psicologia
pela UNESP – SP, Pós-graduação em Psicoterapia Psicanalítica pelo IPSI-NH
(incompleto), trabalha com psicologia clínica desde 2002, atualmente residente
em Joaçaba/SC, casada com Daniel Adolfo Dammann.
KOPPE, Leani Veiga: Nascida em
Montenegro (14/01/1959), reside em Ivoti, onde é professora de Anos Iniciais e
Alemão na Rede Estadual e Municipal. Formação: Letras Português-Alemão,
incompleto. Autora do livro bilíngüe “Viajando com esperança para o
desconhecido – Eine hoffnungsvolle Reise ins Unbekannte”: São Leopoldo, Editora
OIKOS, 2010. Coautora do livro “Bom Jardim-Ivoti no palco da história”
KREUTZ, Roque Amadeu
(08/10/1940): Formado em Letras, Mestre em Educação, professor de português e
de metodologia de pesquisa na pós-graduação, autor de numerosas pesquisas
publicadas em livros e revistas especializadas, aposentado pela UFSM, residente
em Ivoti desde 2000, organizador do livro “Bom Jardim-Ivoti no palco da
história” e organizador deste livro.
KRUG, Pronila (06/09/1946):
Formada em magistério, autora de textos em Hunsrick publicados no jornal
“O Diário” de Ivoti. Participação na pesquisa do livro Imigração. Aposentada
pela profissão que exerceu. Coautora do livro “Bom Jardim-Ivoti no palco da
história”
MENEZES, José Alberto Nardin:
Nascido em Porto Alegre a 18/12/1947. Foi funcionário público. Trabalhou na
Embraer-SP até aposentar-se em 1996. Adotou e reside em Ivoti desde 1997.
Casado com Reiko.
MENEZES, Maria Reiko Goto: Nascida em Flórida Paulista-SP a 05/05/1951.
Formada em Ciências Contábeis e Administração de Empresa. Trabalhou na
Panasonic e SORRI-Brasil, ambas em SP. Casada com Menezes.
MUNDSTOCK,
Walter Egon (03/05/1937): Cirurgião-dentista formado na PUC. Oficial da reserva
CPOR. Vice-Prefeito na gestão Neldo Holler e Chefe de gabinete na gestão Paulo
Buchmann. Foi cirurgião-dentista concursado na Unidade Sanitária de Ivoti.
Presidente do C.M.D. por dois anos. Autor do Livro “Saudades Lembranças ou Bons
Tempos?” Reside em Ivoti desde 1963. Cidadão Honorário de Ivoti. Coautor
do livro “Bom Jardim-Ivoti no palco da história”
NOÉ, Ivoni Herrmann (08/07/1938):
Natural de Picada Capivara, atual Lindolfo Collor, filha de Walter e Erna
Herrmann. Professora aposentada. Estudou em Osório, bem como no Instituto de
Educação IVOTI e na UNISINOS. Fez curso de guia de turismo na FEEVALE. Integra
o Grupo de Estudos da História de Ivoti e lançou um documentário com fotos
de Lindolfo Collor. Coautora do livro “Bom Jardim-Ivoti no palco da história”
PATRO, Herta Sporket
(05/07/1929): Natural de Novo Hamburgo, onde estudou na “Gemeindeschule” e na
Fundação Evangélica e, depois, no Rui Barbosa da capital, formando-se em
fotografia, profissão que exerceu em estúdio fotográfico (P. Alegre). Já
casada, residiu e trabalhou durante vinte anos em Ivoti, onde fez pesquisas e
publicou o livro “Ivoti – um pontinho no mapa”. É autora de três livros e de
inúmeros artigos de jornal. Coautora do livro “Bom Jardim-Ivoti no palco da
história”
ROBINSON, Maria Neuli
(05/10/1948): Funcionária Pública aposentada. Trabalhou durante 25 anos na
Prefeitura Municipal de Ivoti (1965
a 1990), iniciando como Escriturária e encerrando como
Oficial Administrativa. Secretária do Grupo de Estudos da História de Ivoti por
mais de cinco anos. Coautora do livro “Bom Jardim-Ivoti no palco da história”
ROST, Ademir Jair (22/06/1947): Professor, bacharel em
direito, pesquisador e genealogista. Autor de trabalhos sobre a história da
família e dos municípios de Rolante e Santa Maria do Herval. Presidente da
Sociedade Ivotiense de Estudos Humanísticos (SIEHU). Coautor do livro “No
coração verde da mata virgem Thee Walt – Santa Maria do Herval” e do livro “Bom
Jardim-Ivoti no palco da história”
SAUERESSIG,
Simone: Nascida em Campo Bom, 1964, escreve profissionalmente desde os 18 anos.
Grande parte de seus textos é voltada para o público infantil, utilizando, como
pano de fundo, narrativas populares e do folclore regional. Na década de 90,
trabalhou como editora no suplemento infantil do Jornal NH, a
"Popinha", para o qual escreveu dezenas de textos, entre os quais
"A Assombração", republicado nesta obra.
SCHMELING, Kurt Günther Hugo: Nasceu em Porto Alegre , em
15.05.1923. Formou-se em Arquitetura e
Educação Artística. Professor no Colégio Sinodal (São Leopoldo), Fundação
Evangélica (Novo Hamburgo), Escola Normal Evangélica (Ivoti). Diretor da
Fundação Evangélica (1954-1973). Docente na FEEVALE (1974-2002). Membro do
Conselho Estadual de Educação/RS (1974-1986).
SCHNECK, Andréa
Cristina Baum (27/08/1965): Mestre em Educação pela UFRGS. Historiadora e
Educadora Patrimonial pela UFRGS e ADECI. Arte-educadora,
Psicopedagoga, com especialização em Arte-terapia. Coordenadora do PLUG
(Programa Lazer Unindo Gerações de Ivoti). Artista plástica e Ilustradora.
Coautora do livro “Bom Jardim-Ivoti no palco da história”.
SCHNEIDER, Leonardo (25/09/1971):
Natural de Porto Alegre. Jornalista pela UFRGS. Pós-graduado em Gestão da
Comunicação Institucional (lato sensu)
pela UNESCO/UCB. Servidor do TRF 4ª Região desde 1995. Repórter e depois editor
assistente de Geral do Correio do Povo de 1996 a 2002. Premiado em
concursos de comunicação, literatura e redação. Autor de textos publicados em
dez livros, três livretos e diversos periódicos.
STEPHANOU, Maria: Historiadora (UFRGS), Mestre e Doutora em Educação
(UFRGS), com pós-doutorado em História da Educação (IFÉ, França). Professora
Associada IV da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, onde atua junto à
Faculdade de Educação e Programa de Pós-Graduação em Educação, sendo
pesquisadora da Linha de Pesquisa História, Memória e Educação. Pesquisadora do
CNPq.
TIETZE, Fávio Adolfo: Professor, natural de Santa Cruz do
Sul, reside em Ivoti desde 1978. É licenciado em Letras pela Unisinos, com Especialização
em Alfabetização. É servidor público de Ivoti desde 1984, tendo atuado nas
áreas de educação, cultura e patrimônio histórico (museu). Atualmente, trabalha
na Secretaria Municipal de Educação e Cultura.
WAGNER, Hermedo Egidio
(08/03/1936): Formado em Pedagogia, Estagiário da Paedagogische
Hochschule de Worms (Alemanha), Especialista em Metodologia do Ensino Superior,
Professor da área pedagógica na Escola Normal Evangélica e Supervisor do
Estágio no IEI. Professor de Metodologia do Ensino na Feevale. Ex-vereador e
ex-Secretário de Educação e Cultura de Ivoti. Cidadão Honorário de Ivoti. Coautor
do livro “Bom Jardim-Ivoti no palco da história”
Apresentando o artista plástico Flávio
Scholles
Andréa Cristina Baum Schneck
Flávio
Scholles nasceu no dia 15 de fevereiro de 1950, em São José do Herval,
atualmente localidade do município de Morro Reuter, sendo o último dos onze
filhos de Anna Kieling Scholles e Carlos Scholles. Nasceu quando sua mãe já
tinha 47 anos. Seu pai veio a falecer três anos depois, e sua mãe chegou aos 90
anos, reunindo a quinta geração. Ela faleceu em 1993, quando já era tataravó.
Os bisavós paternos do artista, Martin Scholles e Ana Maria Sehn, vieram da
Alemanha em 1854, fundando, junto com outros imigrantes, a localidade de São
José do Herval. Seus avós maternos eram Karlus Kieling e Margarethe Görgen. Os
avós paternos, Johann Scholles e Maria Blume.
Flávio, quando
criança, falava somente dialeto alemão e, desde cedo, se interessou pela
história dos antepassados, com destaque aos ancestrais Anton Kieling e
Elisabeth Lange, que deram origem à família da mãe. Desde criança, ele viveu de
perto uma realidade muito peculiar, em que usos e costumes deixados pelos
antepassados foram preservados e reciclados. Cresceu com orgulho de sua
história, embora se sentisse, muitas vezes, inferiorizado, principalmente pela
dificuldade com a língua portuguesa. Recorreu à linguagem da arte para
expressar-se com mais liberdade e autenticidade. Teve várias
experiências que o impulsionaram ao fazer artístico, embora não tivesse acesso
a materiais considerados nobres pela sua condição econômica. Criava com o
inusitado, aproveitando bem as oportunidades que surgiam em seu cotidiano.
Scholles
lembra que, aos quatro anos de idade, contemplava, admirado, os vitrais
translúcidos da Igreja que retratavam cenas bíblicas, ligadas ao nascimento,
batismo e ressurreição de Jesus Cristo. Sua alma sensível dispunha-se a
descobrir os mínimos detalhes dessas imagens tão marcantes, que, de certa
maneira, lhe permitiam dialogar com o divino. Flávio se apropriou dessa
experiência para compor um estilo muito pessoal de pintar, marcando, com
intensidade, objetos e personagens de suas composições a partir de traçados
pretos.
Em sua
trajetória, optou por caminhos muito diferentes daqueles que haviam sido
pensados para ele, pois via, na arte, um caminho que poderia ajudá-lo a
descobrir seu potencial e sua missão. Aperfeiçoou seus estudos de Arte em São
Paulo. Assim, longe do seu lugar de origem, em meio às novas propostas de arte
de vanguarda, foi que o artista descobriu e definiu o foco de seu trabalho,
optando por uma arte ligada à sua história de vida.
Regressando
a sua terra, não era ainda conhecido como artista plástico. Teve que mostrar
sua arte, evidenciando, por seu trabalho, quem ele era, apesar dos muitos
preconceitos. Despontava sua preocupação cada vez maior com
indivíduos e grupos, especialmente com a existência humana. Acreditava e
defendia o fato de que as pessoas que fazem uma arte com base na realidade do
seu povo tinham tudo para melhorar o mundo; portanto, a arte com essa
perspectiva era, por si só, um grande ideal, que deveria conquistar a
credibilidade de sua comunidade.
Engajou-se em
movimentos que pregavam a inserção do artista em seu lugar de origem.
Mostrou-se um artista inovador, decidido, preocupado, ousado; anteviu a globalização, introduzindo uma
arte muito diferente dos moldes profundamente arraigados
até então, pautados no romantismo europeu. Fato relevante é que Flávio não
ignorou a situação de exclusão em que viviam os colonos e, ao mesmo, tempo não
calou ou ficou passivo diante do impacto que o capitalismo estava gerando nas
comunidades interioranas. A arte era uma possibilidade poderosa para defender
suas idéias e ideais, bem como um meio de sensibilização e conscientização para
a mudança, desencadeando ações concretas frente à infinidade de problemáticas
que se apresentavam no dia a dia, bem como um caminho para celebrar a vida, os
feitos e conquistas, valorizar a cultura.
No início da
década de 1990, Flávio definiu os eixos temáticos principais de sua obra, a
saber: “Situação Colônia, Situação Êxodo, Situação Cidade”. Mais tarde,
acrescentou-lhes um quarto eixo: “Situação Origens”; e, atualmente, dedica uma
atenção especial aos “Quadros que falam”.
A pintura
dramática e subjetiva de Scholles expressa os sentimentos humanos em suas
telas. No uso de cores irreais e na forma plástica de retratar o amor, o medo,
a solidão, a união, a miséria humana, os vínculos e o despedaçamento familiar,
a violência, a prostituição, o caos, acaba por deformar as figuras para
ressaltar-lhes os sentimentos. A aplicação da tinta, feita em pinceladas
horizontais, verticais e diagonais, com texturas lisas ou em relevo, intensas e
contrastantes, acentua sólidos e volumes, trazendo implícitas as inquietações
do próprio artista.
Sua obra
agrega fortemente a questão religiosa, ligando o espectador à terra natal e ao
Criador, em toda simplicidade. Em sua obra, Flávio insere a representação de um
conjunto de objetos que, de alguma forma, estiveram presentes em sua infância
na colônia. Mais que uma sensação estética ou de utilidade, os objetos de suas
obras nos dão um assentimento à nossa posição no mundo e nos identificam num
determinado contexto. São objetos biográficos plenos de afetividade que dão a
sensação de continuidade através do lembrar e recordar. Certamente por isso, os
objetos pessoais e as relíquias de família são coisas sagradas para muitos; e,
à medida que o tempo passa, acresce o seu valor.
Os objetos que
perpassam as vivências de Flávio Scholles modelaram também sua forma de fazer
arte, uma arte que testemunha tempos e espaços. São mais de seis mil obras que
ele produziu em seus 36 anos de carreira, desde 1976. Muitas delas estão espalhadas
pelo Vale do Rio dos Sinos, outras em muitos cantos de nosso país; outras ainda
são amplamente apreciadas no exterior. Destas, 1600 fazem parte de seu acervo
no Atelier de Morro Reuter/RS.
As obras de
arte de Flávio Scholles são investidas de significações, e cada apreciador ou
pesquisador conectará a elas suas experiências anteriores, seja pela imaginação
e pelas lembranças, seja pelas interpretações e referenciais. A potencialidade
educativa de suas obras é relevante, acima de tudo inquietante e plural. Ao
mesmo tempo em que traz implícitas vivências do artista, identifica o seu grupo
de pertencimento, mostra realidades, desejos, verdades, necessidades; provoca a
todos nós no tempo presente para refazermos nossas trajetórias, criando um elo
entre os diferentes tempos e lugares. Sem perder de vista nosso papel como
cidadãos comprometidos com nossa terra, nos desperta e conscientiza para a
valorização de nossas origens em meio às constantes metamorfoses da
globalização. Não há como desconectar o que nos liga a um passado longínquo.
Todavia, não somos meramente herdeiros do que se passou, pois temos histórias
para contar. Um fio une diferentes tempos e lugares, histórias de vida e de fé
podem ser contadas com arte!
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