Outra Visão ZH 13/08/2016
Aloyzio Achutti: pódio
Médico
"Olimpíada 2016" polariza mídia e atenção. Será pela importância do exercício, caminho para a longevidade e fonte de saúde física e mental? Contrapõe-se à tendência progressiva para o sedentarismo, trocando músculos, esqueleto e sistema nervoso, por equipamentos informatizados e automáticos, facilitando comunicação e operação à distância, sem sair do mesmo lugar. Movimentos são evitados, até os de apertar botões ou dedilhar teclado, utilizando-se cada vez mais comandos de voz.
A emulação do esporte leva multidões aos estádios, mas deixa a imensa maioria na plateia apenas assistindo competições entre os poucos selecionados.
Provavelmente a atração não está no valor do exercício, mas provém de arquétipos relacionados com o abate de uma caça e a dominação de território. A conquista e a vitória se acompanham de prazer, e acionam nosso poderoso sistema nervoso de recompensa. O estresse físico e mental da disputa e da expectativa mobiliza catecolaminas capazes de produzir euforia, funcionando como compensação e fonte adicional de prazer.
No pódio somente subirão três, embora todos tenham sonhado lá chegar. Até a torcida, na imaginação de cada um. Quase todos, em contato com a realidade, terão que sublimar as frustrações, e apelar para o chamado "espírito esportivo" respeitando os demais, e conformando-se com a glória de ter competido, podendo ser este até um ganho adicional, ao se distinguir da população geral que ficou assistindo.
Num mundo tão desigual, onde muitos ficam expostos e estimulados a desejar as benesses alcançadas por poucos, tem-se pouco estudado o peso das frustrações. Estamos equipados para correr em busca do prêmio e do prazer. Aprendemos facilmente e tendemos a recorrer o caminho do sucesso, e fugimos do desconforto e da dor. Quando não conseguimos esquecer o insucesso buscamos consolo e remédios para neutralizar o desprazer. Tais alternativas para acalmar o sistema de recompensa — como substâncias psicoativas, drogas e violência — são frequentemente nocivas e podem explicar comportamentos destruidores de desiludidos, especialmente quando em ação grupal.
Nossa repulsa pela frustração provavelmente é responsável pela alimentação de fantasias, imaginando-nos no lugar daqueles poucos que conseguem se aproximar de metas, cada vez mais difíceis de atingir.
Fala-se muito nos campeões que alcançam ou superam os limites da capacidade humana, pouco nos riscos dos extremos — não sinônimos de saúde. Saudável é o exercício sistemático, continuado, moderado, adequado para a compleição física de cada um, e sem estresse exagerado.
Obviamente, deve haver muito mais interesses por trás da competição e da conquista do pódio do que benefícios para a saúde da população...
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