No meio dos "bichos" da Medicina de 25 anos
Aloyzio Achutti
Saudações iniciais…
Sinto-me privilegiado por poder estar
ainda aqui celebrando, com meus colegas
da turma médica de 1958 a conclusão de
nosso curso, e ao mesmo tempo honrado
com convite para falar em nome dos
colegas das outras onze unidades existentes
na época em nossa Universidade.
Nossa Faculdade de Medicina foi a
segunda a ser criada (em 1898) portanto
completando agora 120 anos, exatamente
o dobro de nossos sessenta de hoje.
Esse número, convencionou-se representar na vida de uma pessoa o marco da
senectude. Na vida profissional - aos que conseguem chegar até aqui - pode
significar experiência e memória de muitas histórias para contar…
Segundo me consta, estamos de volta à inauguração deste magnífico Salão
de Atos, pois fomos a primeira turma a utilizá-lo com local de formatura.
Essa obra arquitetônica faz parte do conjunto recém construído na expansão
do campus central da época em que nosso Reitor era o eminente
Professor Eliseu Paglioli. Um filho seu era nosso colega de turma, recebeu o
diploma das mãos de seu pai e, felizmente hoje está também aqui presente..
Havíamos escolhido como Paraninfo o saudoso Professor
Rubens Mário Garcia Maciel, que por sua vez, em 1937, escolhera
como patrono, nosso reitor de 1958, numa feliz coincidência
Durante nossa vida Profissional tivemos oportunidade de apreciar um
desenvolvimento técnico-científico acelerado, exigindo permanente adaptação
daquele equipamento que recebemos durante nossos cursos acadêmicos.
Mas foi a base em cima da qual conseguimos pôr em prática as maravilhas de
hoje. Não mudaram os princípios éticos e humanos sobre os quais debruçamos
nossa formação, embora estejam sempre ameaçados pela constante
necessidade de adaptação e tentação de ultrapassar seus limites.
O tempo nos permitiu apreciar, participar, sonhar, imaginar e alcançar
as recompensas de missão cumprida, amizade e afeto de tanta gente que
fomos encontrando em nossos caminhos.
O panorama mundial entretanto ainda se constitui numa contínua frustração
pela nossa incapacidade de controlar a violência, o tribalismo, a desigualdade,
a ganância, a deterioração de nossas instituições e de nosso ambiente, a
drogadição, o instinto de morte.
É difícil avaliar se o que vemos é expressão de uma piora, ou se estamos
apenas tendo mais chance de conhecer o que estava anteriormente oculto.
Temos mais motivos de distração, desviando nosso olhar dos problemas
que temos para resolver, fugimos de tudo que deveria nos causar compaixão.
Aprendemos que as causas das causas do problemas de Saúde, situam-se fora
do setor saúde, tornando-o objetivo comum e de interesse a todas as disciplinas.
Aprendemos que só com médicos, ou mais médicos, não conseguiremos um mundo
melhor ou feliz. Na época de nossa formatura já dizia o Diretor da Organização
Mundial da Saúde Halfdan Mahler “se nada mais for descoberto com a ciência,
mas o que já existe for posto ao alcance de todos, haverá mais saúde no ano 2000”.
mas o que já existe for posto ao alcance de todos, haverá mais saúde no ano 2000”.
O novo século chegou, já se passaram sessenta anos e nossa incompetência em
administrar nossa própria casa fica cada vez mais evidente..Longevidade aumentou
principalmente por redução da mortalidade no início da vida, mas sem assegurar um
desenvolvimento emocional, intelectual e social para as novas gerações. Ao menos
não na proporção do aumento populacional e da disponibilidade de recursos
tecnológicos. As desigualdades permanecem ou aumentam.
Nossos conhecimentos sobre determinantes do comportamento humano
ainda deixam muito a desejar. Os recursos disponíveis para a comunicação
se desenvolveram enormemente, mas em vez de servir para nos aproximar,
têm contribuído para a desinformação, segmentação e descrédito. Fomos à Lua,
estamos tentando sair de nossa Galáxia e até vislumbramos os umbrais do universo.
Às vezes dá impressão que estamos tentando abandonar nossa morada antes
que se destrua....
Em nossa turma de Medicina éramos oitenta e oito, dos quais provavelmente
menos da metade teve condições para hoje celebrar conosco. Muitos só
permanecem em nossa memória e da população por eles atendida.
Ao lembrar colegas, é hora de lembrar também nossos familiares, professores,
funcionários, pessoal dos hospitais e serviços onde exercemos nossas profissões,
nossos clientes e oportunidades de praticar e nos sentirmos úteis e realizados.
Entidades profissionais, associações como a dos Antigos Alunos desta
Universidade… Nada teríamos feito, ou teria acontecido se tivéssemos
agido sozinhos.
Eu, em particular, preciso agradecer minha esposa e colega
Dra. Valderês Antonietta Robinsonque fará parte dos sexagenários de profissão
dentro de dois anos. Foi por causa dela que estou aqui neste momento, se não,
teria feito parte da turma do ano passado como formado em Engenharia
(cujo curso tem um ano menos que a Medicina)...
Devo dizer que me sinto como um veterano de sessenta anos, abraçando os
demais e desejando saúde, felicidade e sucesso aos calouros de
cinquenta e vinte e cinco anos!...
Agradecendo à Professora Jussara Issa Musse pela organização deste festejo.
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