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Monday, September 01, 2008

Numa só geração...,

01 de setembro de 2008
ARTIGO Publicado hoje no Jornal Zero Hora
Numa só geração..., por Aloyzio Achutti*

A Comissão de Determinantes Sociais da Organização Mundial da Saúde acaba de lançar um relatório no qual afirma que numa única geração deve ser possível equilibrar as inaceitáveis desigualdades de saúde com as quais estamos convivendo como se fossem fenômenos naturais ou mera fatalidade.Começa o documento dizendo que “nossos filhos têm chances dramaticamente diferentes de viver dependendo de onde eles nascem. No Japão e Suécia podem esperar viver mais de 80 anos; no Brasil, 72; na Índia 63; e, em um de vários países africanos, menos do que 50 anos”.Temos uma média relativamente não tão ruim porque temos uma desigualdade social interna muito grande (nisso levaríamos medalha de ouro) e o extremo da população miserável – equiparável ao dos países africanos pobres, porém mais iguais – é compensado por nós, que conseguimos manter um padrão de vida semelhante ao da Suécia.Temos consciência de todos os riscos que ameaçam nossa saúde: agentes infecciosos, venenos e poluição ambiental, radiações, fumo, desvios alimentares tanto para mais como para menos, estresse, violência, falta de assistência quando necessária etc. Não está, entretanto, no mesmo nível de nossa consciência que tudo isto está socialmente orquestrado. Depende de onde nascemos, em que família, onde vivemos, em que compartimento da sociedade fomos inseridos.Faz pouco, demonstramos que pelo Código de Endereçamento Postal de Porto Alegre seria possível predizer o risco de morrer precocemente por doenças cardiovasculares. Podendo-se dizer que quase a metade dos óbitos precoces dos 45 aos 64 anos de idade são evitáveis se não houvesse tanta desigualdade social.Uma curiosidade, já que se tem falado tanto em subsídios e estamos na época de Expointer: diz o relatório que cada vaca na Europa atrai um subsídio de cerca de US$ 2 por dia; mais do que a renda per capita da metade da população mundial que vive na pobreza e em cujo contingente se insere também boa parte de nossa população, hoje maquiada com o subsídio do programa Bolsa-Família.Estamos convivendo há séculos com esta desigualdade sem resolvê-la. Agora parece que recebemos uma herança da mãe natureza, o petróleo da tal camada do pré-sal. Quem sabe não estará aí nosso momento de sorte, se começamos a ter juízo, aplicando esses recursos naturais no resgate de nossos recursos humanos, reduzindo a desigualdade social e investindo em saúde, atingindo em uma geração o objetivo proposto?
*Médico

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