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(Artigo que enviei para ZH, ainda não publicado)
Em Porto Alegre, a cada quilômetro que se caminha em direção à periferia, do centro onde melhor se vive, perde-se um ano de esperança de vida. Esta expressão foi usada pelo Dr. Sérgio Luiz Bassanesi durante nossa apresentação no Congresso Mundial de Epidemiologia, encerrado há poucos dias em nossa cidade. O sentido é figurado, mas a medida é muito real e verdadeira. Os meninos que nascem hoje em bairros privilegiados podem esperar viver em média até 77,8 anos, e as meninas 83,6. No extremo da periferia a esperança não passa de 56,5 para eles e 66,1 para elas.
No ano passado escrevemos nesta mesma coluna um artigo com o título “O CEP e o Coração” no qual comentávamos os resultados de um estudo semelhante realizado juntamente com Dra. Maria Inês Reinert Azambuja, onde se examinava a distribuição da mortalidade precoce por doenças do coração pelos 72 bairros da Capital, o que permitiria predizer, pelo Código de Endereçamento Postal, o risco de morrer mais cedo por doenças do aparelho circulatório. Pois com o mesmo modelo, com o mesmo grupo de pesquisadores, analisamos agora independentemente de qual a causa de morte, qual a esperança de vida que cada um pode ter.
Foi estimada também a esperança daqueles que já chegaram aos 60 anos. Em média todos podem esperar viver mais vinte: 17,2 para eles a 22,2 para elas. Olhando de novo para os extremos: a variação entre os homens vai dos 22,5 até 10,9; e entre as mulheres de 27,1 para 14,5.
A diferença percentual de perda fica de 12% entre os que estão nascendo, até 25% entre aqueles que conseguiram ficar velhos, carregando sua experiência de vida - melhor ou pior.
Apesar da má notícia da desigualdade com a qual convivemos em nossa cidade, a notícia de nossos resultados é uma boa notícia porque, em média, já podemos esperar viver um pouco mais do que os 75 anos recentemente anunciados pelo IBGE para nosso Estado.
Com estes dados em mão, podemos dizer que em nossa cidade existem bairros nos quais as pessoas têm menos esperança de viver do que no Estado de Alagoas, com os índices mais baixos do país; convivendo com gente que tem expectativa de vida semelhante aos da Suécia. Comparando com séries temporais pode-se também dizer que deixamos uma geração para trás, já que tem gente nascendo com esperança de vida igual a que se tinha no Rio Grande do Sul na década de quarenta. Para os mais velhos, entretanto, não fizemos grande progresso, todos que chegavam aos sessenta, já podiam esperar mais vinte, naquela época.
O que determina tais diferenças? Segundo Sir Michael Marmot, pesquisador inglês que citou nosso trabalho no Congresso, é principalmente o poder de controlar sua própria vida e ter esperança no futuro, o que melhor define a esperança de viver.
Nota final: esta não é uma mensagem somente para nossos candidatos a prefeito e vereadores, mas também, e principalmente, para seus eleitores...
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