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Friday, April 09, 2010

PORTO não só ALEGRE, mas também SAUDÁVEL...

Artigo que mandei para Editoria do Jornal ZH a propósito do Dia Mundial da Saúde e que não foi publicado (É provável que o título não tenha agradado. No dia publicaram um artigo sobre assistência médica...).

PORTO não só ALEGRE, mas também SAUDÁVEL...
Aloyzio Achutti. Médico.

Embora grupos humanos tenham se concentrado desde priscas eras originando posteriormente cidades, o mundo sempre foi predominantemente rural até bem pouco. Hoje a situação é inversa: o mundo tornou-se urbano, seguindo uma tendência aparentemente irreversível. 
Com seus 238 anos de existência nossa cidade inspirou a canção "Porto Alegre é demais!..." A natureza nos privilegiou e ainda estamos conseguindo razoavelmente preservá-la. Temos dos melhores índices de desenvolvimento humano do país, academia respeitada, organizações de apoio social, voluntariado, "etcetera e tal..." É demais, mas não é o suficiente.
Basta ver os equipamentos de segurança com os quais precisamos nos cercar, os moradores de rua, os pedintes, o vandalismo, o misto de rejeição e medo que temos pelos marginalizados, a desigualdade nos indicadores sociais e de saúde na comparação entre os bairros, a desvalorização do público quando comparado com o privado, etc.
O Dia Mundial da Saúde deste ano foi dedicado pela OMS para promover a Saúde Urbana. É uma boa oportunidade para questionarmos se além de alegres, podemos também nos qualificar como saudáveis.
O conceito de saúde exige mais do que ausência de doenças, inclui bem estar físico, mental e social, três condições inseparáveis e interdependentes. 
Evoluímos muito na assistência individual aos enfermos e atingimos qualificações técnicas invejáveis, mas nem sempre conseguimos atender a demanda, sobra gente insatisfeita, e temos ainda muita incapacidade e morte precoces evitáveis, muitas vezes ligadas à exposição a fatores de risco comuns como sedentarismo, estresse, desvios alimentares, etc. A alegria (de nosso nome de batismo) deveria ser uma das manifestações da saúde mental, mas não consegue esconder a frequencia da depressão e ansiedade, a drogadição, o crack, a violência, os suicídios e assassinatos ao volante, e a criminalidade. A baixa escolaridade em vilas, o desemprego, a falta de qualificação para o trabalho, os baixos salários, a falta de perspectiva futura para grande parte da população, apontam para um longo caminho antes que Porto Alegre seja também Saudável. 
A defesa mútua, a facilidade nas trocas comerciais, disponibilidade de serviços e de conhecimento e técnica para solução de problemas, estas e outras vantagens levaram a humanidade às concentrações urbanas, apesar do apinhamento, da saturação das vias de comunicação, do aumento da poluição, do esgotamento dos recursos naturais, das dificuldades de abastecimento, do desperdício, do lixo, dos excessos da competição, da marginalização por exclusão interna e pela migração.
Se o fenômeno básico foi a aproximação dos indivíduos, hoje se observa uma progressiva segmentação defensiva, onde bens e valores são escondidos. Perde-se a vantagem da troca do conhecimento na solução dos problemas.
Entretanto, não há disputa de partido político para justificar a desunião, nem racionalidade para guardarmos nos arcanos da universidade o capital científico e técnico capaz de encontrar soluções para nossos problemas.
O caminho em busca da cidade alegre e saudável não pode ficar polarizado entre ricos e pobres, há um ambiente cultural e ideológico difuso, no qual estamos todos imersos, sustentado pelo poder na construção social em todos seus níveis.
Ricos, remediados e pobres iludem-se pensando numa saída com acesso concentrado ao dinheiro e ao poder. Só a quebra das barreiras e a mobilização integrada do conhecimento interdisciplinar, buscando uma identidade comum para aqueles que nunca a tiveram ou que a perderam, permitirão a redução das desigualdades sociais e de saúde para se chegar a um Porto não somente Alegre, mas também Saudável.

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