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Saturday, October 03, 2020

Revolução de 1930 - 90 anos hoje.

 

Artigo de Luiz Gonzaga Binato de Almeida, com foto tirada por nosso pai Bortholo Achutti, na época com 32 anos, também mobilizado para embarcar para o front. Tinha uma filha com dois anos, outra que  estava com um mês de vida. Se tivesse embarcado sem retorno, eu não teria tido chance de existir...

Revista Mix, página Memória, 26 e 27/9/2020

Imagem: 1.200 dpi, 

Crédito da imagem:

Arquivo Bortholo Achutti

Legenda da imagem:                

12 de outubro No registro de Bortholo Achutti, em plena Revolução de Trinta, destacam-se Getúlio Vargas, o intendente municipal Manoel Ribas e o tenente-coronel Góes Monteiro, chefe militar da insurreição     

 Getúlio Vargas em Santa Maria - Revolução de 1930

Vê-se na frente, à esquerda, o líder político da Revolução de 1930, Getúlio Vargas, ao passar por Santa Maria, no dia 12 de outubro desse ano. Levava no pescoço a manta com a bandeira do Rio Grande, que uma moça lhe ofertara, horas antes, em Rio Pardo. Era para ele ostentar esse símbolo até o campo de batalha. Ao centro, o intendente Manoel Ribas, um dos mais destacados articuladores da Revolução nesta cidade. (Encontra-se sua casa na Avenida Rio Branco n.º 303.). À direita, com gorro e túnica, o tenente-coronel Góes Monteiro, chefe militar das forças rebeldes.                 

      O santa-mariense Bortholo Achutti foi mobilizado para a Revolução, mas não chegou a viajar. Ele registrou, na gare e entornos, cenas desse movimento conspiratório. As doze fotografias, nunca publicadas, estão com seu filho, Dr. Aloyzio Achutti, em Porto Alegre, o qual me enviou as imagens. Selecionei essa para a página Memória.     

      Em Santa Maria, ante os rumores da Revolução, 23 senhoras caminharam, no dia 5 de setembro de 1930, até a capela do Seminário São José, para rogar   a proteção da cidade à N.ª Sr.ª Medianeira. Nove dias depois, um grupo de fiéis foi em procissão, conduzida pelo Monsenhor Luiz Scortegagna, da Catedral ao referido Seminário. Foram pedir o amparo da Medianeira. Iniciava-se assim a devoção da Medianeira em Santa Maria, diretamente ligada, portanto, à Revolução de 30.

      O movimento eclodiu em Porto Alegre, às 17 horas e meia de 3 de outubro de 1930. Com a rápida tomada do QG da 3.ª Região, próximo à Igreja das Dores, além do controle de outras unidades militares, a capital ficou nas mãos dos conspiradores. Em seguida, a Revolução espalhou-se por Minas Gerais, Paraíba, Ceará, Pernambuco, Pará, Paraná e outros estados.   

      Para o sucesso do levante, era vital a adesão de Santa Maria, polo militar e ferroviário estratégico para o transporte das forças rumo a São Paulo e ao Rio de Janeiro, capital da República. Logo após as 17 horas de 3 de outubro, quando iniciava a Revolução em Porto Alegre, o general Fernando de Medeiros, comandante da 5.ª Brigada de Infantaria, aqui sediada, estaciona o carro defronte à Sociedade União dos Caixeiros Viajantes (SUCV). Vai a pé ao Telégrafo Nacional, ali próximo. Ao entrar na agência, militares conspiradores o prendem e o conduzem ao Quartel da Brigada.

      O tenente-coronel Aníbal Barão, da Brigada Militar, assume o comando revolucionário local, ocupa repartições federais e determina a prisão de alguns civis e militares. Antes da meia noite, o 7º Regimento de Infantaria aderia à Revolução; o mesmo ocorre com o 5.º Regimento, às 9 horas da manhã seguinte. A Banda do 7.º RI desfila, então, até a praça central, onde o povo comemorava o engajamento militar da cidade à causa rebelde.   

       Durante a sangrenta Revolução, uma central de informações diárias funcionava no Centro Libertador, instalado na Praça Saldanha Marinho. As Sociedades 3 de Outubro e João Pessoa, presididas por Annita Barão e Anna Niederauer Jobim, prestaram socorro, nesta cidade, aos feridos nos combates.       

      À meia-noite de 11 de outubro, parte de Porto Alegre o trem de Getúlio Vargas e comitiva, rumo ao Paraná. Sobre os motivos que o levaram a essa aventura, ele escreveu no seu diário: “Desejo fazê-lo porque este é o meu dever, decidido a não regressar vivo ao Rio Grande, se não for vencedor”.

      A viagem foi um triunfo. Em cada parada, o povo aclamava Getúlio como a um herói. Dos 11 vagões do trem, no primeiro, engatado ao carro-restaurante das autoridades, iam Getúlio, o filho Lutero, o cunhado Walder Sarmanho, o oficial de gabinete Luiz Vergara e o ajudante de ordens Aristides Krauser. O segundo vagão era o de Góes Monteiro e do seu Estado-Maior. Os carros seguintes, precedentes aos da soldadesca, conduziam a “escolta presidencial”, formada por civis e militares. Além de políticos, havia jornalistas e intelectuais, como Vianna Moog e o poeta Vargas Netto, sobrinho de Getúlio e cronista oficial da viagem.  

      À tardinha de 12 de outubro, o comboio chega a Santa Maria. Parecia que toda a cidade viera saudar a figura central da Revolução e seus companheiros. O povo exigiu a presença de Getúlio no centro da cidade. Na sacada da esquina do segundo pavimento do prédio do SUCV, Getúlio Vargas e Flores da Cunha discursaram ao povo. Devido ao congestionamento das linhas, só na manhã seguinte, às 5 horas, segue Getúlio Vargas para a Serra.     

      Para lutarem na Revolução, imenso era o entusiasmo dos voluntários. Os lugares nos trens, disputadíssimos. Transcrevo um episódio vivido em Santa Maria e narrado por Vargas Netto:

      “Ninguém queria ficar!

      Um gaúcho velho, que morava com seu único filho, sem mais ninguém de parentes, seguiu com ele na primeira força que embarcou para o Paraná, deixando, nos arredores da cidade, o seu rancho abandonado, com essa frase escrita na porta: Este rancho pertence ao Rio Grande!”

      No dia 17 de outubro, o trem de Getúlio estanca em Ponta Grossa (PR). Permaneceria à espera do combate em Itararé (SP), entre 6.200 legalistas e  7.800 insurgentes. A batalha, prevista para 25 de outubro, não ocorreu, pois, na véspera, uma Junta Governativa Provisória depôs e exilou o presidente Washington Luís, a 22 de dias de expirar o mandato. O presidente eleito, Júlio Prestes, não foi empossado.

      Na manhã de 31 de outubro, Vargas chega vitorioso ao Rio de Janeiro. A Junta Provisória passa-lhe o governo em 3 de novembro de 1930. Por 15 anos, ele comandaria o país, modernizando-o em vários aspectos e sepultando a Primeira República (1889-1930).           

Nota: Sugiro a fixação de uma placa comemorativa na sacada do prédio da SUCV, onde, há 90 anos, Vargas discursou, rumo à vitória da Revolução. 


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