Recomendado pela AMICOR Maria Ines Azambuja
Offline: A moral health system demands a moral society
Richard Horton, Editor. Lancet Vol 393 May 4, 2019, p. 1790.
There is nothing like the personal need for high-quality health care to make one appreciate the importance of universal health coverage as a core institution of a just society. Being away from The Lancet for 6 weeks experiencing the benefits of the UK’s National Health Service has certainly given me new energy to use the best available health science as a platform to campaign vigorously for expanding the availability of high-quality health care provided free at the point of delivery. There are few indicators of a civilized society more telling than the presence of a strong health system. But sometimes long sleepless nights these past weeks did lead me to question the meaning of universal health coverage. For the morality of a health system surely cannot be separated from the morality of the wider society it inhabits. The political economy of a nation determines the way that country and its people envision a health system. Health systems are not Lego-like “building blocks” of component parts—financing, leadership, workforce, products and technologies, information, and services. They are not even cubes with their three dimensions of population, services, and financial protection. Health systems are a set of moral principles. The values of a health system are shaped by the values of a nation’s political economy. The idea that a health system can be separated from the history, politics, and economics of a country is a conceit that seems to have distorted advocacy for universal health coverage. That distortion will be fatal to the goal of achieving universal health coverage by 2030. * In his contrarian analysis of modern capitalist societies— The Moral Economy: Why Good Incentives are no Substitute for Good Citizens (2016)—Samuel Bowles challenges the economic orthodoxy that societies are filled with individuals who live utterly self-interested and amoral lives—each of us existing as Homo economicus. The most rigorous experimental evidence shows that “people are more generous and civic minded than either economists or evolutionary biologists assumed”. Indeed, policies based on “the assumption of universal amoral selfishness” actually erode our ethical motivations and civic mindedness. Instead of being driven by ruthlessly egotistical instincts, human beings have deeply embedded social inclinations to be good and virtuous. We are not Homo economicus. We are Homo socialis. We are cooperative, not competitive. Policies that promote competition encourage moral disengagement. Economists have successfully sold the myth that politicians and policy makers should ignore virtue and values. By doing so, our societies have compromised the very virtues and values that would otherwise encourage people to act in socially beneficial ways towards one another— including their commitment to creating a benevolent, inclusive, and kind health system that respects every person as an equal member of society. Intensive and competitive market-based societies have generated enormous wealth for a few, with increasing precarity for many. Our societies have become more divided, more angry, more partisan. Trust, reciprocity, and fairmindedness are receding. Society rewards self-interest. If the morality of society begins with the question “What’s in it for me?”, it is not surprising that the solidarity one needs to build a high-quality health system will be in short supply. Bowles writes that “moral sentiments are an essential foundation of good government”. “There is no ethnographic or historical record”, he continues, “of a successful society indifferent to virtue”. * A health system is the most visible and tangible expression of a society’s concern for the welfare and wellbeing of its citizens. The strength of a health system depends on the strength of that concern. In ancient civilisations, social solidarity was engendered through rituals and religions—the “moralising gods” of complex and cooperative societies. Some argue that today democracy has replaced religion as a powerful stimulus for advancing social commitments to health. But as democracies fracture, as authoritarianism rises, and as civility declines, the forces that protect and advance health are under threat. But remember: our (health) needs depend upon the actions of others. We are mutually dependent. We must have a shared concern for the lives of others since our own lives depend on that shared concern. The struggle for the moral principles underpinning a health system is a struggle for the moral principles underlying wider society. It’s time for moral re-engagement and reconstruction—by each one of us. Richard Horton richard.horton@lancet.com
Offline: Um sistema de saúde moral exige uma sociedade moral
Richard Horton, Editor, Lancet Vol 393 May 4, 2019, p. 1790.
Não há nada como a necessidade pessoal de alta qualidade de cuidados de saúde para nos fazer apreciar a importância da cobertura universal de saúde como instituição central de uma sociedade justa. Estar longe do The Lancet por 6 semanas, experimentando os benefícios do Sistema Nacional de Saúde do Reino Unido, certamente me deu nova energia para usar a melhor ciência da saúde disponível como plataforma para uma campanha vigorosa, visando expandir a disponibilidade de cuidados de saúde alta qualidade prestados gratuitamente no ponto de entrega. Há poucos indicadores de uma sociedade civilizada mais reveladores do que a presença de um sistema de saúde forte. Mas às vezes, longas noites sem dormir nas últimas semanas, levaram-me a questionar o significado da cobertura universal de saúde, porque a moralidade de um sistema de saúde certamente não pode ser separada
da moralidade da sociedade mais ampla que ele habita. A economia política de uma nação determina a forma como um país e seu povo vislumbram um sistema de saúde. Sistemas de saúde não são "blocos de construção" de partes componentes tipo Lego - financiamento, liderança, força de trabalho, produtos e
tecnologias, informações e serviços. Eles não são nem mesmo cubos com suas três dimensões: população, serviços e proteção financeira. Sistemas de saúde são um conjunto de princípios morais. Os valores de um sistema de saúde são moldados pelos valores da economia política de uma nação.
A ideia de que um sistema de saúde pode ser separado da história política e economca de um país é um conceito que parece ter distorcido a advocacia pela cobertura universal de saúde. Essa distorção será fatal para o objetivo de alcançarmos cobertura universal de saúde até 2030.
Em sua análise das sociedades capitalistas modernas “A economia moral: por que os bons incentivos não são substitutos para bons cidadãos (2016)” - Samuel Bowles desafia a ortodoxia economica de que as sociedades são constituídas por indivíduos que vivem vidas totalmente auto-interessadas e amorais - cada um de nós existindo como Homo economicus. A evidência experimental mais rigorosa mostra que “As pessoas são mais generosas e cívicas do que assumem os economistas ou biólogos evolucionistas”. De fato, políticas baseadas na “suposição de egoismo universal amoral” erodem nossas motivações éticas e mentalidade cívica. Ao invés de serem impulsionados por instintos impiedosamente egoístas, os seres humanos têm inclinações sociais para serem bons e virtuosos profundamente assentadas. Nós não somos Homo economicus. Nós somos Homo socialis. Nós somo cooperativos, não competitivos. Políticas que promovem a competição encorajam o desengajamento moral. Economistas venderam com sucesso o mito de que políticos e os formuladores de políticas devem ignorar a virtude e os valores. Fazendo isto, nossas sociedades comprometeram as virtudes e valores que de outra forma encorajariam as pessoas a
agirem de maneiras socialmente benéficas uns para com os outros, incluindo seu compromisso de criar um sistema de saúde inclusivo, benevolente e gentil, que respeite cada pessoa como um membros igual da sociedade. Soiedades baseadas em mercado intensivo e competiivo geraram enormes riquezas para alguns com crescente precariedade para muitos. Nossas sociedades se tornaram mais divididas, mais partidarizadas. Confiança, reciprocidade e equidade estão retrocedendo. A sociedade recompensa o interesse egoista. Se a moralidade da sociedade começa com a pergunta "O que há nisto para mim?” não é de surpreender que a solidariedade que precisamos para onstruir um sistema de saúde de alta qualidade estará em falta. Bowles escreve que "sentimentos morais são um alicerce essencial do bom governo ”. E continua dizendo que "Não há registro etnográfico ou histórico de uma sociedade de sucesso indiferente à virtude ”. Um sistema de saúde é a mais visível e tangível expressão da preocupação de uma sociedade pelo bem-estar e dos seus cidadãos. A força de um sistema de saúde depende da força dessa preocupação. Na antiguidade, a solidariedade social foi engendrada através de rituais e religiões - os "deuses moralizadores" de sociedades complexas e cooperativas. Alguns argumentam que hoje
a democracia substituiu a religião como um poderoso estímulo para o avanço dos compromissos sociais com a saúde. Mas como as democracias fraturam à medida que o autoritarismo aumenta, e
como a civilidade declina, as forças que protegem e promovem a saúde estão sob ameaça. Mas lembrem-se: nossas necessidades (de saúde) dependem das ações dos outros. Nós somos mutuamente dependente. Nós devemos ter uma preocupação compartilhada pela vida dos outros, já que nossas próprias vidas dependem desta preocupação compartilhada. A luta pelos princípios morais
que sustentam um sistema de saúde é uma luta pelos princípios morais subjacentes à sociedade mais ampla. É hora de reengajamento e reconstrução moral - por cada um de nós.
Richard Horton
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