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Monday, March 30, 2020

De nosso compadre Jacy de Souza Mendonça

Jacye e Irany são padrinhos de nossa última filha. Conheci o pai dele em 1953 quando aos domingos de noite, como não tínhamos jantar na pensão onde moráva (Casa da JUC), íamos tomar a melhor batida de abacate de Porto Alegrre, num barzinho onde ele trabalhava, próximo à Igreja das Dores...

MEU PAI !

Jacy de Souza Mendonça

 

Homem pobre, de família pobre. Curso primário incompleto. Dedicado totalmente ao trabalho. Criou 9 dos 11 filhos que gerou, propiciando curso universitário particular a todos aqueles que o desejaram (instrução que não lhe fora proporcionada, mas que reconhecia importante). Como conseguiu fazer isso, não consigo imaginar. Certamente com a inestimável ajuda de minha santa mãe que, para isso, não pôs o pé fora de casa durante vinte anos. Morreu vitimado pelo cigarro, vício que enganosamente lhe venderam como prazer e felicidade. Foi, portanto, assassinado, quando contava 20 anos menos do que tenho eu hoje. Morreu no meu braço. Cheguei a Porto Alegre, vindo de São Paulo para vê-lo, acompanhado por um de meus irmãos, pois ele já estava mal. Fui direto para o quarto dele e sentei-me na cama a seu lado; perguntou-me apenas por minha esposa, em seguida pediu-me que o sentasse, pousou seu corpo no meu braço como uma criança, deitou a cabeça no meu ombro e fechou os olhos para sempre... Só me restou desferir um furioso e desvairado soco contra a parede, antes de chamar meus irmãos e minha mãe.

Alguns dias antes daquela data fatal, quando passava em frente a uma igreja localizada próximo à casa dele, percebi, à distância, que ele descia a escadaria do templo, arrastando-se lentamente pelo encosto da parede. Nunca fora religioso, nunca manifestara o mínimo interesse ou preocupação relativamente ao assunto e lá estava ele na mais evidente demonstração de fé e esperança no Absoluto, na hora da partida. Ocultei-me e respeitei até hoje o sacrossanto silêncio que ele desejou para seu fim de sua vida. É o momento, porém, de revelar como o admirei naquela hora, muito mais ainda do que já o admirava; agora resta-me apenas reconhecer publicamente, enquanto é tempo, mais esse exemplo essencial de vida que ele me deu, sem nenhuma exibição.

Adeus, meu pai! Adeus!

Visite o site e conheça os outros textos http://www.jacymendonca.com.br/
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Jacy Mendonça · 

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