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Sunday, April 12, 2015

AMIGOS...

Texto enviado no início da semana para ZH e não publicado (eu já imaginava que seria rejeitado)
GRANJEAR AMIGOS.
Aloyzio Achutti. Médico.

Motivado pelo tempo de Páscoa e dos sucessos da Polícia Federal, li novamente a parábola do “mordomo infiel e esperto” (Lc 16:1-9).
A estratégia do mordomo, na história de mais de vinte séculos é a mesma utilizada no Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf), agora investigada sob o nome de Operação Zelotes. Falta de criatividade? Ou será que os amigos se sentiram autorizados e até elogiados como espertos, pela própria citação do Evangelho?
O parágrafo final - cotejado com o restante da mensagem de Cristo - fica difícil de aceitar em sua versão literal: E louvou aquele senhor o injusto mordomo por haver procedido prudentemente, porque os filhos deste mundo são mais prudentes na sua geração do que os filhos da luz. E eu vos digo: granjeai amigos com as riquezas da injustiça; para que, quando estas vos faltarem, vos recebam eles nos tabernáculos eternos".
Quanto do poder econômico repousa nas amizades com o poder político? E vice-versa?…
Para o senhor rico, a infidelidade do mordomo, não deve ter ocasionado grande impacto econômico ao perdoar devedores para granjear amizades. Sua demissão estava muito mais relacionada com a perda da confiança; mas em nosso caso, o dinheiro é do povo e não de um único milionário. Os descontos oneram ainda mais os altos impostos cobrados dos cidadãos comuns, não tratados como amigos, além de desviar recursos necessários para assistir os que nem tem de onde tirar.
Em nosso caso - ainda pior - não se trata de simplesmente abater a dívida e conquistar amizade. Parte significativa do subtraído tem ficado antecipadamente com os responsáveis pela cobrança, para construir seus próprios tabernáculos, sem necessidade de incomodar os amigos depois.
Não é de surpreender a evolução do processo de negociação com o decorrer dos séculos, mas provoca indignação a incompetência, falta de responsabilidade ou conluio da vigilância, pois não são múltiplos pequenos desvios pingados de multidão desconhecida, mas manipulação de grandes somas a partir de amigos famosos.
Benesses e troca de favores, realmente costumam estabelecer relações de amizade e cumplicidade. Facilitam transações e mexem com o circuito de recompensa, um dos mecanismos neurais mais importantes para a preservação da espécie. A recompensa pode levar à adição, dependência e voracidade. A amizade pode borrar os limites da lei e da justiça, dificultando o exercício isento de qualquer função.
Colocando-me no lugar de “filhos da luz” ainda não consigo rotular como prudência a atitude dos “filhos deste mundo”. Lucas ouviu mal ou foi mal traduzido...

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