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Friday, June 01, 2018

VFRGS...


A proposito da greve dos caminhoneirose e uma imagem que tomei da Internet trouxeram a tona memorias da VFRGS  levando-me a reapresentar artigo meu publicado há 22 anos.

O último trem

(ZH 18/02/1996) 
ALOYZIO ACHUTTI, Médico. 
Os apitos da oficina, de manhã bem cedo e no fim da jornada marcavam o ritmo básico da cidade onde eu nasci. Era hora de se preparar para ir para o colégio. Era hora de voltar para casa. E não somente das gentes. Um espetáculo que eu gostava de ver, quando visitava uma tia, esposa de um artífice da Viação Férrea, era a chegada das galinhas - chamadas pelo apito - aparecendo de todo o lado, reunindo-se no quintal. Em seguida, vindo das oficinas, surgia por uns atalhos meu tio, para lhes dar o milho a que estavam condicionadas. 

O trem operário, o trem da serra, o paulista, o fronteira e o Porto Alegre eram as portas de Santa Maria, por onde chegavam os jornais, as revistas, as mercadorias e passageiros que iam e vinham. Houve época em que a estação era o ponto provavelmente mais importante da cidade. E eu me orgulhava em passear pelo bulício da maior "gare" do país... 
Caminhar equilibrando-se em cima dos trilhos, pular pelos dormentes, o cheiro do carvão enxofrado. Lembranças de muitas excursões, e dos passeios com meu pai quando tivemos coqueluche (o cheiro do carvão acelerava a cura)... 
E não é somente saudosismo. É espírito prático! Dói-me na alma e no bolso... Tenho andado pelo mundo e não vi país nenhum se comportar como menino traquinas que joga seus trenzinhos, com trilhos e tralhas, de qualquer jeito num canto porque cansou do brinquedo, ou porque ganhou um caminhãozinho novo. 
Não sou engenheiro de operações, nem economista, mas encontro semelhanças entre a decadência da Viação Férrea e o comportamento de gente desesperada, com ego muito fraco, ou irresponsável e imediatista, que não consegue prevenir, não faz manutenção, nem investe no futuro. Depois choram as perdas e se apresentam procurando tratamento, obviamente mais caro, ou inacessível, para males às vezes de cura muito difícil. 
Falamos que nossa população inculta não desenvolveu espírito de cidadania, mas e os políticos que temos elegido, por tomarem ou deixarem de tomar decisões, são ou não responsáveis por tudo que vem acontecendo? A coisa pública não lhes pertencia ou não lhes interessava. De onde saiu o dinheiro e o esforço que construiu todo um sistema agora em ruínas? 
Assistimos passivamente à lenta degradação... Primeiro se foi o apito, depois "mudaram" as oficinas, as escolas de treinamento foram extintas, os operários não foram sendo substituídos, depois não renovaram os vagões, se foram os "pullman", desativaram trechos pouco rentáveis, os bancos foram parar nas praças e jardins de casas particulares, a sucata foi vendida. Contaram-me que até locomotivas inteiras, ainda funcionais, foram esquartejadas e vendidas como ferro velho. 
Na maior parte das grandes cidades que conheço, seguindo as flechas que indicam o "centro", chega-se também à estação ferroviária. Em Porto Alegre assisti desativarem a estação Ildefonso Gomes, junto ao Mercado. A seguir empurraram, roubando-lhe adornos dos tempos gloriosos, a estação central para um pouco mais adiante, na Voluntários. Depois a viagem terminava em Pestana, em contraponto com o aeroporto, símbolo maior de uma modernidade inconsequente e desmemoriada. 
Meu pai que, na Viação Férrea, trabalhou como desenhista por algum tempo, antes de casar, me contava com orgulho a história de sua construção, dos belgas, da cooperativa, de meu avô mascate, que no século passado (XIX), vindo a pé desde Montevidéu, atravessando campos, vendeu suas últimas mercadorias no acampamento cabeceira da linha, na época na altura da Estação General Luz. Eu vou ter que contar, envergonhado, para meus filhos, uma história triste que - espero - lhes sirva de lição para não caírem no mesmo erro. 
Há poucos dias, melancolicamente (embora tenham dito para o repórter que poderia ser temporário) “tirou licença” o último trem de passageiros... 
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Iran Garayp
Vejam como era a malha ferroviária gaúcha em 1939. Coisa de primeiro mundo. Hoje não há praticamente NADA mais. Quase tudo abandonado. Chocante, não?👇
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