VIOLÊNCIA
Aloyzio Achutti.
Membro da Academia Sul-Rio-Grandense de Medicina
Convive-se
num clima generalizado e crescente de violência. Está por toda a parte: nos
jornais, no rádio, na televisão, nas revistas, está no quotidiano, bem a
vista...
Assume
também várias formas: no trânsito, nos assaltos e seqüestros, contra a mulher,
a criança e o velho, no esporte, no comércio, na política, na academia, entre
países, etnias e vizinhos, contra animais e contra a natureza, na própria
natureza provocada, entre religiões, na propaganda, na intensidade do som, entre
aqueles que lutam por justiça e equidade social, no terrorismo e no desrespeito
a si mesmo. Parece que não existe mais outra forma de manifestação e relacionamento.
Discute-se
muito sobre a explicação do fenômeno: drogas, aumento populacional, para-efeito
da comunicação, desigualdade social, falta de religião...
Alguns dizem que é da natureza
humana e que sempre foi assim.
Entretanto, existe uma forma de
violência que não tem sido suficientemente explorada: a violência moral.
Violência moral acontece quando o
governo, menosprezando a inteligência da população, expropria parte significativa
do produto interno (quase a metade) através de impostos maquiados, sem declarar
claramente o quanto, e muito menos, aonde vai gastar; quando privilegia quem
ocupa estruturas de poder e desvaloriza e avilta aqueles que prestam serviço na
construção da cidadania através da educação e aqueles que cuidam da saúde das
pessoas. Quando ignora a identidade do cidadão individual, mesmo quando
alardeia o coletivo na busca do poder.
O mesmo acontece quando são jogados
uns contra outros enfraquecendo e alienando a capacidade de controle social. Também
é vilipêndio a corrupção impune e encoberta, transmudada e legitimada como
negociação política necessária. Estão na mesma linha a distorção dos fatos e a
propaganda política enganosa que termina legitimando comportamento semelhante
no comércio e na oferta ilusória de financiamentos.
Cada leitor deve ter exemplos
semelhantes para acrescentar nesta lista, mas o que importa é que esta
violência moral institucionalizada termina por justificar e fomentar o
comportamento de cada indivíduo, desenvolvendo uma nova cultura e desagregando
o tecido social. Os fundamentos estão em desvalores da competição selvagem, da
intolerância, da discriminação e da esperteza covarde, gerando descrédito,
infelicidade e desespero generalizados.
De nada adianta se alardear que o
crescimento virá, se a casa está dividida, se a entropia está sendo fomentada,
se a confiança se desfez e se os fundamentos são imorais.
Essas considerações não são
exclusivas para nosso país, aplicam-se para quase todo o mundo, para a
academia, para muitas empresas, para muitas ONGS, cooperativas, etc... Não há
para onde fugir, é necessário tentar arrumar nossa casa global, peça por peça.
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Violência e Entropia (08/06/2015)
Aloyzio Achutti. Médico.
A violência sem a modulação da racionalidade é no mínimo um desperdício de tempo e de energia e, geralmente ocasiona danos irreparáveis e com potenciais consequências tardias.
Ação e reação, além de um principio físico pode ser também extendido à psicologia, mas a inteligência e a razão precisam intermediar o processo e evitar danos maiores, antes que um ou os dois contendores se destruam.
Também quando as agressões forem mais frequentes, como nos dias atuais de criminalidade crescente, quem tem juizo tem que se perguntar sobre a causalidade e o que é possível fazer para todos juntos prevenir, em vez de somente remediar ou revidar.
A propósito lembrei-me do livro Freakonomics de Levitt e Dubner quando analisaramm as variações nos índices de criminalidade de Nova York e as interpretações que se faziam, como sendo resultado de ações repressivas e do aparato policial - havia interesse político eleitoral nessas interpretações. A final, parece que o controle da natalidade e a redução das crianças de rua, sem o carinho materno, marginalizadas, e sem perspectiva na vida, é o que melhor explicava o fenômeno.
Um aspecto da questão que poderia ser discutido é o da utilização de um tema desses, de tanta relevância, como objeto de distração, de disputa de poder, em vez de contemplar de forma sinérgica a marginalização social, sabidamente na origem de todos esses males.
Fiquei curioso para saber o quanto seria possível poupar evitando a contenda política infrutífera, e a utilização dos recursos desviados (legal e ilegalmente) para financiamento de campanha em programas de recuperação social.
Não incluí na cogitação o dinheiro roubado, tirando proveito de posições de vantagem no centro do poder, provavelmente maior do que aquele roubado pelos marginais sobre os quais se concentra a discussão.
O desvio de dinheiro público a partir do centro do poder é também uma violência, e por se evaporar sem nenhum proveito social, desviado da finalidade a que deveria se dedicar a máquina estatal, pode ser considerado também como entrópico.
Já que a sociologia, a moral e a ética não conseguem nos ajudar, quem sabe apelando para a física poderíamos conseguir compreender melhor a origem de nossos males?
A lição que está se passando do centro do poder para a marginália é que a violência e o roubo são lucrativos, que recursos estão sendo disperdiçados, e portanto poderiam ser melhor aproveitados, acessando-os diretamente por um extrato para o qual a sociedade não oferece melhor opção.
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